O aquecimento global, acelerado na última década, tem contribuído para uma crise alimentar profunda em muitos países do chamado “Sul Global”, adensando a pobreza, as desigualdades e as cíclicas crises de regime, cuja conflitualidade interna ou regional se agrava com os custos elevados da importação de energia e bens alimentares de primeira necessidade. Se em 2010-2011, uma subida repentina e sustentada do preço dos cereais precipitou uma agitação em 40 países e provocou o que ficou conhecido como a Primavera Árabe, em 2022 a FAO aponta já para 2,3 biliões de pessoas em todo o mundo em estado de insegurança alimentar agravada.
No entretanto, perante a crise económica que resultou do fechamento de fronteiras, disrupções comerciais e desajustamento no mercado mundial durante os dois anos de pandemia, os custos do serviço da dívida acabaram por reduzir o espaço financeiro para os países responderem à altura do agravamento das condições sociais. Isto é particularmente oneroso e crítico nos países mais vulneráveis às alterações climáticas, sobretudo em África, América Latina e Ásia Menor, cujos custos em serviço da dívida podem chegar aos 500 mil milhões de dólares nos próximos quatro anos.