“Os fracos usam a força, os fortes usam o diálogo. Os fracos dominam os outros, os fortes promovem a liberdade” (Augusto Cury, O Mestre Inesquecível)
É muito difícil abordar este assunto de uma forma objetiva, racional, não emocional. O brutal ataque das forças armadas russas à Ucrânia, sob a liderança de um inqualificável e imprevisível Putin, é uma covardia, uma desumanidade.
Os meios de comunicação social, em Portugal e no mundo, como era expectável, recorrem a dezenas de académicos, políticos, militares, jornalistas, especialistas em relações internacionais, economistas, para explicarem a guerra e as suas consequências. Por este motivo, não tenho muito mais a acrescentar, apenas que Putin subestimou o patriotismo e a enorme capacidade de resistência do heroico povo ucraniano e, principalmente, a incrível reação da comunidade internacional, com apoio e solidariedade a uma nação, provavelmente nunca antes visto na história.
Por isso, esta crónica tem um cunho pessoal. Nas minhas experiências profissionais e académicas na Rússia e na Ucrânia, vivi duas situações completamente diferentes, mas emblemáticas para se ter uma ideia sobre a essência política, sobre a alma destes dois países.
Em agosto de 1998, participei, no Canadá, no World Congress of Sociology, onde conheci um colega que, na altura, era o vice-presidente da prestigiada Academia de Ciências da Rússia. No ano seguinte, ele convidou-me, por escrito, para dar uma conferência na referida Academia. Munido de visto, tirado em Lisboa, com muita dificuldade, embarquei para Moscovo. No controle do aeroporto, quando questionado sobre as razões da minha viagem, apresentei a carta-convite da Academia. Quando o polícia leu o documento, retirou-me da fila e levou-me para a sala de interrogatório: os polícias queriam saber como o tinha conhecido, quais eram as nossas relações pessoais e, principalmente, políticas. Embora convencidos de que eu era um nobody, um não perigo para a estabilidade política da Rússia, negaram o visto de entrada e embarcaram-me no voo de retorno da Lufthansa, com destino a Frankfurt. Fiquei a saber depois que o meu colega havia feito críticas ao regime e, por isso, estava na lista dos ‘traidores’ da pátria (putiniana). Lembro que, em 1999, com o fim da Presidência de Boris Yeltsin, este tinha nomeado o seu protegido Vladimir Putin, uma ardilosa figura do regime, como primeiro-ministro. Como a história comprova, a partir daí, Putin foi adquirindo cada vez mais poder político, chegando ao poder absoluto e destrutivo de que hoje, infelizmente, somos testemunhas e os ucranianos vítimas. Alguns anos depois desta má experiência, após uma apertada ‘entrevista’ na Embaixada da Rússia, em Lisboa, consegui viajar finalmente para este país, por motivos académicos.
A minha outra marcante experiência foi na Ucrânia. Em 2019, como professor-visitante na Universidade de Ostroh, região de Rivne, participei na receção oficial ao recém-empossado Presidente, e agora tão heroicamente conhecido, de nome Volodymyr Zelensky. Naquele momento, nunca poderia imaginar que este iria se transformar num grande líder da Ucrânia, alma e corpo de resistência à tentativa (falhada) de Putin de subjugar o povo ucraniano.
Fiz grandes amigos na Ucrânia e todos os dias falo com eles, pelas redes sociais, com a esperança de brevemente voltar à Ucrânia, a Ostroh, e dar um abraço apertado no Ihor, no Eduard, no Maksym, na Viktorria.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.