No Olho Vivo desta semana, os “olheiros” da VISÃO fizeram o balanço da campanha eleitoral que termina esta sexta-feira. Com uma larga percentagem de indecisos, e sondagens relativamente renhidas, o resultado da noite eleitoral é incerto e o suspense pode motivar ainda mais uma audiência atenta. Mas, para Alexandra Correia, subdiretora da revista, “o suspense começa no domingo, tendo em conta que nada aponta para uma maioria absoluta de nenhum dos candidatos” e “começará um período de negociação, manobras de bastidores e cenários diversos, para a formação do novo Governo”. Sara Belo Luís, também subdiretora, considera, em todo o caso, que “está tudo em aberto, na mais longa campanha eleitoral de sempre. As sondagens têm dado uma vitória da AD, mas com este nível de indecisos tudo pode mudar de um dia para o outro. E é por isso que é muito arriscado fazermos previsões para domingo”. Filipe Luís avança várias hipóteses para explicar esta massa de indecisos: “Em princípio, estão no centrão e hesitam entre PS e PSD. Além disso, colocados perante duas propostas tão polarizadas, de esquerda e de direita, também hesitam, porque prefeririam ver mais compromisso. Finalmente, podem duvidar das capacidades de ambos os candidatos principais, que são estreantes, sem que nem Montenegro nem Pedro Nuno tenham inteiramente convencido de que dão conta do recado, no papel de chefe do Governo”. Mais, acrescenta o subdiretor da VISÃO, “pode haver também uma faixa de indecisos atípicos, os novos eleitores, mais jovens, que nem sequer pensam no voto útil, mas que hesitam perante propostas tão diversificadas -e que conhecem mal os políticos que se apresentam”.
“Vamos falar muito sobre cenários e sobre coligações. Mas podemos não vir a ter um governo de coligação. Por um voto se ganha, por um voto se perde – julgo que Marcelo está preparado para dizer uma coisa deste género”, acrescenta Sara Belo Luís. E Alexandra Correia duvida do peso do “centrão” entre os indecisos: “O voto útil vem também das margens, eleitores habituais do bloco ou do PCP estarão a pensar se votam no PS. e esses partidos sabem disso, daí todos à esquerda se disponibilizarem para uma coligação pós-eleitoral, no sentido de se tornarem pertinentes”. Já sobre cenários, Alexandra Correia coloca o Chega na balança: “Sem considerar o Chega, a esquerda no seu conjunto pode até ter maioria absoluta. E nesse caso, que vai fazer Montenegro? Entregar o poder que pode ter nas mãos? Alguém entrega assim o poder? Daí a hipótese de se considerar sempre o Chega, não querendo com isto dizer que o ‘não’ de Montenegro a Ventura não é sério”. Filipe Luís acredita que teremos governo, mas um governo de maioria relativa: “Se o PS ganhar, Montenegro deve manter a palavra e não fazer um acordo com o Chega, logo, mesmo com maioria de direita, Pedro Nuno forma governo. Aliás, não vale a pena esperar que venha outro líder do PSD fazer a geringonça que Montenegro recusa, porque o Presidente Marcelo já deu sinais de que não indigita nenhum primeiro-ministro que não se tenha apresentado a eleições… E se for a AD a ganhar, ainda é mais fácil: a esquerda não consegue uma maioria para aprovar qualquer moção de rejeição, e o líder do PS já disse mesmo que não a apresentará, logo, Montenegro governa; é que mesmo que o Chega apresentasse essa moção, o PS também não a votaria. Se houver maioria de esquerda, aí, sim, o PS, fique em primeiro ou em segundo, governará com apoio maioritário no Parlamento. Portanto, haverá sempre um governo”.
Outro tema em foco foi a notícia desta semana da VISÃO de que o próprio Ministério Público já duvida de que tenha existido crime nos processos do lítio e do hidrogénio. E a procuradora-geral, Lucília Gago, estará na base da decisão de investigar António Costa. Ora, diz Sara Belo Luís, “as próximas semanas serão complicadas; a partir de dia 10 de março, vamos estar todos muito ocupados a falar de cenários e de coligações, mas julgo que vamos precisar de voltar a falar destes temas da Justiça. Precisamos de regressar a estes casos de outubro e, sobretudo, precisamos de voltar a falar sobre a atuação do Ministério Público e a forma como o MP atua e investiga, com consequências no espaço público.”
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