Estamos à beira de um novo ano e, como sempre, é hora de nos metermos por terrenos arriscados e fazermos as nossas previsões. Neste Olho Vivo, vamos olhar para 2024 e antecipar o que vem aí na área política e económica.
Teremos um ano repleto de eleições em Portugal: em fevereiro, nos Açores; logo a seguir em março, serão as legislativa; depois em Junho, as europeias. E no segundo semestre começam a aquecer-se os motores para as autárquicas em 2025. Que hipóteses de governo poderão sair das legislativas de 10 de março? “Uma coisa é certa: ninguém, a esta distância, aposta numa hipótese que garanta estabilidade durante muito tempo”, diz Mafalda Anjos. Para a diretora da VISÃO, todos os cenários que se podem antecipar mostram soluções frágeis e equilíbrios difíceis de alcançar.
As eleições nos Açores abrem o ano e serão um laboratório político. “Não porque sejam indicativas de intenção de voto no todo nacional – senão, as empresas das sondagens tomavam as ilhas como ‘amostra-tipo’… – mas nas leituras que se farão relativamente ao Executivo que sairá delas. E não podiam vir em pior altura para Luís Montenegro: será que o PSD retomará o seu acordo com o Chega, contrariando as intenções de não falar com o Chega, que o líder tem reiterado? Isto vai ser o teste do algodão para a credibilidade das afirmações de Montenegro!”, afirma Filipe Luís.
Para editor-executivo da VISÃO, “também é interessante ver se o PSD fica, ou não, desta vez, em primeiro lugar, nos Açores”. “E o que fará se ficar em segundo, mas houver uma maioria à direita. Há dois anos, fez a geringonça com a IL e o Chega… E agora? Estas regionais também são importantes para o PS que, há dois anos, não ficou muito longe da maioria absoluta: irá recuperá-la? Ou vai perder para o PSD-CDS? Os Açores também servirão para criar dinâmicas de vitória, em cima da campanha eleitoral nacional para as legislativas…“, enfatiza.
“É possível que entremos naquilo que o Presidente tanto temia: um período de mini-ciclos políticos, possivelmente com novas eleições. E sabemos que neste ambiente de caos e desilusão há um partido sabe nadar melhor: o Chega”, antecipa o jornalista Nuno Aguiar.
Mafalda Anjos concorda. “Imaginando um cenário de maioria de Direita, ela será impossível sem o Chega. É verdade que a AD traz uma élan acrescido, mas basta o Chega ter mais de 15% e a AD não consegue ter uma maioria, mesmo com a IL e o PAN. A grande dúvida é o que fará Luis Montenegro, depois de dizer e repetir que ‘não é não’ e André Ventura ter disto que, não só não viabiliza sem estar no governo, como preparará uma moção de censura a um governo minoritário do PSD. Vai Montenegro dar o maior flik flak à retaguarda da história? E se o PSD ficar em segundo lugar, mas houver maioria de Direita, vai mesmo resistir a formar governo, como tem vindo a repetir – a meu ver mal, porque nada na Constituição nem na prática o proíbe? E pode seguir-se outro nome que esteja disposto a fazê-lo sem haver eleições antes? O Presidente tem de ser coerente. E o grande elefante na sala vai ser o Chega, que fica com a faca e o queijo na mão.”
Filipe Luís é mais otimista. “O grande desafio desse Governo minoritário do PSD, mesmo com o CDS e a IL, será fazer aprovar o próximo Orçamento, para 2025. Acontece que a base é boa: vai herdar um excedente orçamental. E os portugueses vão ter mais dinheiro na carteira. Quem é que vai, nessa altura, arriscar uma crise política, chumbando o Orçamento e podendo ser penalizado em novas eleições para o ano?… Não é líquido que um tal governo não se aguente, pelo menos, uns dois anos…”
“No discurso público parece que assumimos que, com maioria à esquerda, será formada uma geringonça. Não estou certo que será fácil”, refere Nuno Aguiar. “A anterior geringonça virou o rumo económico do país de uma trajetória liberalizante e tinha um série de medidas desse período para reverter. Isso não acontecerá agora. Além disso, BE e PCP sentem que não havia transparência nos números apresentados nas negociações e parecem ter perdido eleitoralmente. No futuro serão mais duros nas negociações e procurarão reclamar para si os méritos da governação. Pedro Nuno Santos pode acabar por ter de decidir, por exemplo, se aceita mudanças profundas na legislação laboral ou se não aceita governar.”
Para Nuno Aguiar, qualquer que seja o resultado das eleições, 2024 deverá trazer uma viragem ao País. “Quando António Costa se demitiu, encerrou-se um ciclo político, mas também um ciclo de governação económica”, afirma. “Virando à esquerda ou à direita, tanto Pedro Nuno Santos como Luís Montenegro parecem desvalorizar a bandeiras das “contas certas”.”
“Em 2024 a inflação deve continuar a cair e o BCE começará a falar de descer juros pela altura das eleições. Será um ano de contradições: por um lado teremos uma recuperação do poder de compra das famílias, por outro a economia terá um crescimento baixo e o desemprego aumentará”, acrescenta o jornalista.
E assim termina mais um Olho Vivo, o último de 2023, e o último da diretora demissionária Mafalda Anjos.
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