Pergunto-me muitas vezes o que ficará quando, daqui a algumas décadas, olharmos para estes tempos políticos com o distanciamento devido. Esta semana, ouvia Larry Diamond, sociólogo político norte-americano e um dos maiores especialistas do mundo em democracia, num podcast do Financial Times, referir-se a 2006 como o ano da grande revolução tóxica do Facebook. Considerava-a um dos fenómenos mais importantes das últimas décadas, que inundou o mundo de desinformação, polarização e raiva. Sobretudo, muita raiva.
Não tenhamos dúvidas: o principal efeito das redes sociais, sobretudo do Facebook e do Twitter, é a escalada incontrolável da cólera como sentimento político-social. O que antes era uma emoção negativa contida, metida para dentro ou partilhada em grupos restritos, familiares, laborais ou sociais, passou a ser partilhável com o mundo em breves minutos. Um efeito peganhento, contagioso, que mobiliza os outros a fazerem o mesmo e a meterem cá para fora todos os seus descontentamentos, contaminando o ambiente à sua volta. Um efeito de catarse coletiva que transforma facilmente o que antes era indizível e impronunciável em aceitável, porque banal.