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O povo conhece-a por Ágata. Já foi “mãe solteira” e esteve “abandonada”, entre “veneno e loucura”. Os seus discos e canções venderam milhões.
Em 2017, comovida com a ressaca dos incêndios e reivindicando o seu estatuto de “mulher do povo”, a artista, desafiada por Assunção Cristas, líder do CDS/PP, decidiu tentar a carreira política. Candidatou-se então à presidência da Câmara Municipal de Castanheira de Pera (Leiria), mas o povo preferiu dar-lhe música: num universo de quase dois mil votantes, uma das maiores participações eleitorais das autárquicas desse ano, Ágata obteve 90 votos. Mas quem nunca trauteou “podes ficar com as joias, o carro e a casa/mas não fiques com ele” que atire a primeira pedra.
O que poucos conhecem é a faceta “esquerdista” da cantora antes de se tornar a famosa Ágata. E nada melhor do que lembrá-la no dia em que o 25 de Abril faz anos. Em 1975, com 14 aninhos, a menina loira de olhos azuis nascida em Lisboa que cantava desde os três e frequentou o Centro de Preparação de Artistas da Emissora Nacional, apresentou-se ao público em pleno fervor revolucionário com o seu nome de batismo, Fernanda de Sousa, e com um tema a condizer: Heróis Trabalhadores. O EP, editado pelo selo discográfico Vitória, incluía outras três canções que sopravam para o mesmo lado. Para algumas editoras dessa época, os tempos são propícios ao virar da agulha e aparecem vários discos com uma postura ideológica e comercial que, no entanto, não duraria por aí além.
Maria Fernanda de Sousa era jovem, “uma vantagem”, e bonita, “uma aliciante”, conforme pode ler-se na contracapa do disco. Dona de uma voz de “timbre suave e agradável”, a cantora estava lançada. Com poema de Castro Infante, pseudónimo artístico de um engenheiro naval do Seixal, e acompanhada por orquestra e coros dirigidos por Rocha Oliveira, Ágata, perdão… Fernanda de Sousa, deu o corpo e a alma ao manifesto de Abril.
Agora só falta mesmo corrigir a biografia da artista de música ligeira no site da editora Espacial para nunca nos esquecermos da menina que nasceu no “ceio” (sic) de uma família humilde e foi “trautiando” (sic) por aí, com ou sem “comunhão de bens”, desde os tempos do PREC.
![AGATA BIO.jpg](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2019/10/14228182AGATA-BIO.jpg)
Heróis Trabalhadores
(Castro Infante / Rocha Oliveira)
Acende o teu archote
No coração do povo
E vai de porta em porta
Fazer um País novo
Diz às aves do céu
Que cantem à vontade
Que o trigo que cresceu
Foi já em liberdade
REFRÃO
Sonhar, sonhar, sonhar
Sonhar que bom que é
Não desesperar e ter sempre fé
Cantar, cantar, cantar
Cantar que a voz é lança
Lutar, Lutar, lutar
Lutar com esperança
Constrói com tua mão
Mais jardins a florir
Onde as crianças vão
Crescer, brincar e rir
Heróis trabalhadores
A quem marcou a guerra
Sonham com mais tratores
Para trabalhar a terra