Arquivo Morto
Da I República ao Governo PS: Cem anos a geringonçar por aí
Se esta legislatura tornou PS, PCP e BE mais amigos ao ponto de já prescindirem de cerimónia entre eles é coisa que qualquer dos dirigentes desmentiria, pelo menos para consumo exterior. Mas a palavra “geringonça” tem muito mais que se lhe diga.
A última entrevista com Ruben e o pato corado da Tia Matilde
Nessa tarde arrastada, deliciosamente arrastada como partilhas de alpendre, escutei histórias clandestinas, sensíveis, delicadas, mas também episódios de troca-tintas, de vira-casacas e retratos de figuras charmosas com voz de linho e pés de barro
Dez anos a levar no focinho ou a outra história do PAN
No início, os militantes pré-PAN eram vítimas de sorrisos trocistas e olhados como uma espécie de escuteiros com upgrade, muito dados à bicharada e à floresta, entretidos “lá com as coisas deles”. E como não faziam mal a ninguém, deixá-los…
Chico Buarque, o perseguido. E a agitada viagem a Lisboa
"Tanto Mar", a música que ele dedicara ao Portugal livre e democrático, foi assumida de peito aberto. “Mas, quando chegou a hora, a coisa foi ficando 'preta'”, explicou, depois de desesperar com a libertação da cantiga por parte da censura. Foi então que resolveu inventar uma desculpa, dizendo que o tema havia sido feito para Moçambique
Fundação, Família e Farsa: Os três “F´s” de Joe Berardo
Berardo nunca foi verdadeiramente incomodado pela Justiça: a fundação continuou oficialmente pujante e ele nunca se cansou de exibir a sua “paixão pela cultura” e a coleção de arte, sem se molhar nos pingos de chuva
As anedotas esquecidas de Salazar e outras histórias de Vasco Queiroz
Farto, naquele tempo, só mesmo o reportório. Limão que não deitasse gota de sumo já teria sido espremido pelo ditador. Refeição de canjinha “aos modos da Beira” e posta de pescada “grande e fresca” era, por si só, um “bacanal”. Comido o prato de peixe, Salazar pedia à fiel governanta para trazer o peru. E ele lá vinha, realmente, mas vivo e posto sobre a mesa, para que debicasse as migalhas
O sangrento 1º de Maio do Porto e os mortos esquecidos de 1982
Durante duas horas, homens fardados e sem freio batem e disparam às cegas. Os jornalistas “comem como os outros”, dirá um deles. Afinal, justifica, estavam ali “para bater e não para chamar ambulâncias”. Nem o serviço de Urgência do Hospital de Santo António é poupado: entram espumando e carregam sobre familiares de feridos
Os dias revolucionários de Ágata e os seus “heróis trabalhadores”
O que poucos conhecem é a faceta “esquerdista” da cantora antes de se tornar a famosa Ágata
Cornélia, a vaca do pós-revolução que agitou a esquerda e a direita
A vaquinha foi tema de café, polémica de jornal e pretexto para agitar ainda mais o acalorado debate político, não refeito das fogueiras do PREC, muitas delas ainda acesas
Quando Joe Berardo, “português do ouro” queria os “brancos” a ensinar os “negros”
Tal como acontecera com Ricardo “Dono Disto Tudo” Salgado, antigo “patrão” do BES, as figuras da política, da finança e da cultura que antes lisonjeavam o comendador, fogem a sete pés de Berardo, aproveitando agora para glosar, à luz do dia, a sua “chico-espertice”
Vamos brincar aos nazis pequeninos? Da montra do Chiado ao Hitler bebé
O melhor mesmo é recuperar a dita caixa de brinquedos para a Páscoa e talvez, quem sabe, lançar um segundo volume de citações de Hitler, para juntar às amêndoas. Mas agora, por favor, com a foto “queriducha” do pequeno Adolfo em babygrow, na qual se possam apreciar aqueles olhinhos vivos e curiosos
A PIDE, a mulher traída e a amante francesa
Sobre o que esse “vendaval de alegria” e “desordem perfumada” de apelido Garnier fez à vida do ditador, muito terá ficado por contar. Nada, porém, que preocupasse o professor de Santa Comba. Como se sabe, morreria celibatário e sem protagonizar, pelo menos oficialmente, qualquer incidente a que PIDE pudesse chamar “desarmonia do lar”
Quando Duarte Lima não era rico... E quase nos fazia acreditar nisso
Acossado, Lima dizia-se vítima de uma “cabala política”, expressão típica do idioma da vitimização que a classe pratica, desde tempos que se desvanecem, em exercícios rotineiros de inimputabilidade. Às suspeitas sobre a alegada fortuna, o antigo deputado contrapunha pudor. “O que é ser rico?”, perguntava, quase filosoficamente
Quando a incorrigível “Gaiola Aberta” “agrediu” e “perturbou” a revolução
“O incorrigível e manhoso Vilhena”, termo usado pela polícia política, mas do qual ele se apropriaria mais tarde, nunca cedeu a perseguições, ameaças e intimidações, continuando, desafiante e livre, até às portas que Abril abriu.
As noites lisboetas de James Baldwin com Oulman, fados e bifes do Lacerda
Sem saber dizer mais do que “very nice”, Alfredo Lacerda, entretanto falecido, conversava animadamente com os norte-americanos, indo desaguar com eles no Bairro Alto e em Alfama até altas horas. James Baldwin não foi exceção
A Grândola saiu à rua antes de Abril entre censores e “pides à paisana”
A Grândola, editada em 1971, cantou-se então pela primeira vez, em público, ombro a ombro. Por incrível que pareça, não era uma canção conhecida, passara até quase inofensiva no reportório de Zeca Afonso, mas saiu dessa noite, cantada uma e outra vez em uníssono, escolhida para ser uma das senhas da revolução, dali a poucas semanas
'A Desfolhada' chegou a Simone em segredo e ela cantou-a entre insultos e GNR a cavalo
Até entrar no palco do Teatro São Luiz, Simone continuou “apavorada”: não sabia os versos todos, não conseguira decorar a cantiga. “Era um lençol, de facto”, acode Nuno Nazareth Fernandes. Mas a Desfolhada ganhou e abalou o País do respeitinho. Com consequências inimagináveis, sobretudo para quem a cantou.
Quando Salazar, esse “noctívago”, aplaudiu a “criaturinha” do fado
Nesta como noutras áreas, como se sabe, Salazar revelou-se “duro de ouvido”. Mas naquele momento arrebatador proporcionado por Amália Rodrigues, transfigurou-se, segundo a Imprensa espanhola, num “notívago excecional”
“Antro de ladrões e homossexuais”: O urinol no País do “Verão Quente”
A imprensa excitava-se a cada aglomeração popular e ganhava lastro o “Verão Quente” político, com vagas incendiárias, atentados, ameaças e refregas várias
Era uma vez o vigário do BPN e o futuro com “outra leveza”
Na verdade, tal e qual prometia o BPN, não há como “encarar o futuro com outra leveza” e ter banqueiros destes a criar riqueza “para o bem da sociedade”. É certamente um peso que nos sai de cima. Só não sabemos quando, claro
1992: a entrevista esquecida do “capitão” Jair Bolsonaro
Em 1992, Bolsonaro chegara até onde era possível, “democraticamente”. Um quarto de século volvido, que democracia será possível, com ele?