O principal argumento que tenho ouvido de quem defende a ação das ativistas climáticas que atiraram balões de tinta ao Ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, é algo na linha de “estamos fartos de tentar por métodos pacíficos e não funciona”. É revoltante e frustrante quando algo nos aflige – mete mesmo em causa a nossa existência – e parece que nada do que façamos vai mudar a situação. Sentimos que é preciso mudar os métodos para mudar resultados. Mas será que o novo método escolhido é o mais acertado?
Conseguiu obter a atenção mediática, isso é verdade. Mas será que a atenção mediática foi para a crise climática ou para o ministro? Que consequências pessoais e políticas teve o Ministro? Parece quase certo que conseguiu aumentar a sua base de apoio pela forma muito positiva com que lidou com a situação. Será que este método conseguiu reunir mais apoiantes para a causa ou mais detratores? Se o foco era criticar a presença do ministro no evento, não teria sido suficiente atirar os balões ao palco – atrair a atenção mediática, sem levar a críticas pela violência contra uma pessoa?
Não nos enganemos dizendo que não é um ato de agressão – se qualquer um de nós visse um homem atirar algo contra uma mulher (mesmo que “apenas” balões de tinta), todos concordaríamos em como o descrever. Pode ser fácil esquecermo-nos quando só os vemos através de ecrãs, mas os políticos são pessoas. Lamentavelmente, continuando assim, haverá cada vez menos pessoas a querer ser políticos – o que, apesar de parecer aliciante para quem odeia políticos, só significa menos pessoas boas a servir a causa pública, porque os outros, que se querem servir dela e não têm outras opções, estarão sempre lá.
O problema é, todavia, mais fundo. O problema está em quando deixamos de confiar no estado de direito democrático para resolver o nosso sentimento de revolta e ressentimento. Quando sentimos que consequências políticas deixam de ser suficientes e passamos a achar que a solução é atingir pessoalmente responsáveis políticos. Mas não esqueçamos, quando usamos narrativas e técnicas da extrema-direira anti-sistema e anarquistas, mesmo por causas completamente diferentes e justas, só a estamos a alimentar.
Sim, é preciso fazer barulho, causar incómodo, usar todos os métodos que o sistema tem (eleitorais, legais, da sociedade civil, etc) e ainda inovar fora dele, mas talvez não de forma a que mesmo aqueles que apoiam a causa passem a questionar os métodos. Uma boa solução é a de usar o sistema contra si próprio, como estão a fazer os jovens que processaram judicialmente países pela sua inação na luta climática.
Por fim, só uma nota: avizinham-se eleições europeias. Será uma oportunidade para fazer a diferença dentro do sistema. Apoiando partidos com agendas ambientais mais ambiciosas e relembrando as votações dos partidos de direita no Parlamento Europeu em matéria ambiental: por exemplo, o boicote dos Eurodeputados de direita que quase bloqueou e acabou por significativamente diluir a Lei de Restauro da Natureza na sua votação final no Parlamento Europeu. Talvez balões de tinta contra uma pessoa não venham a mudar o mundo, mas uma União Europeia diferente pode ser que mude.
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