No dia 4 de fevereiro de 2004, a acreditar no filme A Rede Social de David Fincher, um amargurado Mark Zuckerberg, de apenas 19 anos, fez uma maratona de programação noturna em Harvard para criar aquela que viria a ser a mais importante rede social do ciberespaço. Há 15 anos, comemorados na semana que agora termina, o Facebook, rede social, e a Facebook, empresa, nasciam num dos dormitórios de uma das mais prestigiadas universidades americanas. Sim, já passou todo esse tempo desde que foi criada a cola que nos une a todos na Internet. E não estou a exagerar: mesmo depois de 15 anos muito atribulados, o Facebook ainda é o principal ponto de encontro de uma comunidade com mais de 2,5 mil milhões de utilizadores ativos. O número é gigantesco e apesar dos mais jovens estarem a divorciar-se da rede (optando pelo Snapchat, Instagram ou Pinterest) e os de meia-idade preferirem, em alguns países, o Twitter… a verdade é que o Facebook continua a ser a maior rede social do ciberespaço. Ninguém tem tantos utilizadores ativos ou mostra tanto conteúdo.
Embalado por este aniversário, fui em busca dos meus primórdios no Facebook. Uma tarefa simples porque no browser é possível dar saltos anuais que me levaram rapidamente a 2009, ano em que abri conta na empresa de Zuckerberg. Este exercício de voyeurismo egocêntrico levou horas. E é fácil explicar porquê: não consegui parar de ler o que escrevi ao “mundo”. Confesso que há muita coisa na qual já não me revejo (mas não apaguei posts!). Aliás, é muito fácil detetar um padrão de comportamento que mostra a forma como passei de intervenções muito pessoais (tomadas de posição inflamadas sobre temas da atualidade) para usar esta rede apenas como caixa de amplificação da minha atividade profissional. Na verdade, acabei por migrar a minha personalidade para o Twitter, rede que considero menos poluída e mais estimulante em termos intelectuais.
No entanto, nunca abandonei o Facebook pela simples razão que é a rede social mais utilizada em Portugal e onde fico a saber novidades de vários amigos – “amigos” daqueles reais que conheço pessoalmente. Aliás, há várias pessoas que sei que já abandonaram o Facebook por estarem fartas da vacuidade reinante nessa rede, mas acabaram por voltar por terem reconhecido que, mesmo com todos os defeitos, o Facebook é, mesmo, o grande aglutinador social em Portugal. Aliás, há milhares de portugueses que usam esta rede não só para saber o que se passa com os amigos reais e virtuais, como para receber as notícias do mundo. O Facebook tornou-se o principal canal de distribuição dos meios de comunicação social.
A aglomeração destas facetas é o grande trunfo da rede de Zuckerberg e que faz com que não tenha rival à altura. Quem tentou fazer algo semelhante (Google+, certo?) não conseguiu vingar. Quem teve sucesso, como a Whatsapp, acabou por ser comprado. Quer isto dizer que o Facebook é à prova de tudo? Vai conseguir passar o teste do tempo, mesmo com os escândalos, com os roubos de identidade ou com a utilização indevida dos dados dos utilizadores? Sim. Acredito que sim. O domínio tecnológico é de tal forma avassalador que será muito difícil que estes milhões de milhões de utilizadores abandonem o colinho de Zuckerberg. E há um dado que é preciso não esquecer: a massificação da Internet continua. Ainda existem mais de 3 mil milhões de pessoas que não têm acesso à Grande Rede. Ásia, África, Médio Oriente e América Latina são regiões onde ainda há muita gente que não sabe o que é o ciberespaço. Esses quando entrarem é muito provável que o Facebook seja o primeiro porto de abrigo. Aliás, não é de estranhar que Zuckerberg queira levar a Internet aos países em desenvolvimento. Por isso, estes 15 anos são apenas o princípio de uma história que, acredito, ainda está longe de estar escrita.