Aconteceu quase tudo ao mesmo tempo. Um carrossel desenfreado de acesso aos tão desejados conteúdos. Aqueles que só víamos e ouvíamos no cinema, na rádio, na televisão. Era à hora certa ou já não era. E lá ficávamos com o dedo no botão do REC para imprimir na fita aquela música que não nos saía da cabeça. Gravávamos a K7 que era nossa. Fazíamos o mesmo com os discos de vinil dos amigos e lá criávamos as mix tapes que serviam para mostrar a todos quem eramos. Com a chegada dos videogravadores a missão complicou-se mais um pouco. Mas não havia, no bairro, miúdo que aos 12 anos já não soubesse ligar cabos para copiar os filmes que íamos alugar aos poucos clubes de vídeo que existiam.
E depois chegaram os computadores. Primeiro o deslumbrante 48K. Depois, para mim, o saudoso Commodore Amiga. E lá copiávamos jogos uns dos outros e comprávamo-los, pirateados, no centro comercial Imaviz. Ninguém pensava em pirataria. Aliás, nem sabíamos o que isso era. Ainda nem havia leis contra aquilo que fazíamos alegremente.
E depois veio a Internet e o fenómeno da pirataria – agora bem cunhado porque já existe quadro legal que o define – escalou quase de forma incontrolável. O “paciente zero” para esta contaminação terá sido o Napster – o serviço que provocou o terramoto MP3 e despertou os criadores de conteúdos para o sarilho em que estavam metidos. Para nós, que copiávamos desenfreadamente, também foi um despertar para o tema da ilegalidade. Crescemos e percebemos que a evolução tecnológica trazia mais qualidade. Serviços como iTunes permitiam comprar música que era nossa e que podíamos ouvir nos nossos dispositivos.
E pouco depois o streaming assumiu-se como o grande canal de conteúdos. Hoje pago para ver séries e filmes quando quero. Pago para ouvir música. Pago para jogar na minha plataforma preferida. Pago para ter os canais que quero. Pago, até, para que existam outros canais que não utilizo. Nada é meu. Só sou titular enquanto pago. Este foi o caminho da pirataria até ao streaming.
Hoje, ainda existe outro desafio: o dos milhares que utilizam conteúdos produzidos por terceiros para ganhos próprios. O YouTuber que usa indevidamente aquela música, aquele clipe de vídeo, determinado texto… E isto tem de acabar. Plataformas e usurpadores vão ter de pagar pelos conteúdos que usam. Sim, é tramado não ter música para usar como fundo… Ah! E aquele vídeo do tipo a cair da ponte é tão bom! Temos pena. A Internet não vai acabar com os artigos 11 e 13. O que vai acabar é a vida fácil daqueles que ganham dinheiro, muito, à conta da criatividade dos outros. Está na altura de a Internet voltar a dar um salto civilizacional.