Assistir ao espetáculo de uma orquestra é algo fascinante. Arrumada por famílias de instrumentos, cada músico sabe o exato momento em que tem de entrar com a sua melodia, as suas notas, retirar do seu instrumento aquele som que o autor da peça idealizou. Melodias que conseguem deixar o público, onde me incluo, em êxtase e o maestro ou maestrina com o sentimento de dever cumprido. Um dever que acontece sob uma única batuta e que é, por isso, um sucesso.
Se a vida dos partidos políticos fosse igual bastaria ao cidadão eleitor ler os programas com que se apresentam a eleições e decidir ali com qual se identifica melhor. Mas, a vida dos partidos políticos não é assim. Não é assim, ainda que em teoria haja um líder (maestro), que, por sinal, é eleito entre os seus pares.
Em política gosta-se dos apartes, do comentário, da intriga, do caciquismo, do aparecer por magia quando se quer algo que ainda está no subterrâneo. É assim em todos os partidos, com especial incidência quando se é oposição. E, isso deixa-me a pensar no valor da comunicação, em particular da comunicação política.
Não é segredo que os partidos do arco da governação comunicam de forma diferente. Tradicionalmente, o PS gosta de “dourar a coisa”, enquanto o PSD gosta de “enfrentar a coisa”. Mas, este governo não está a saber “enfrentar a coisa”. Nos ministérios e secretarias de Estado parece que ninguém se entende quando o tema é comunicação. A sensação que se tem no contacto é que a comunicação é feita de forma amadora. Se cada ministério ou secretaria de Estado fosse a tal orquestra diria que o maestro ou maestrina tirou férias, ou se esqueceu que tem sala quase cheia e que é preciso fazer vibrar o público. O anterior governo tinha uma central de comunicação, o atual, ao que parece, contratou agora um dos melhores do sector na Europa.
Quanto ao PS a coisa não está melhor. Gerida sob a batuta do maestro Pedro Nuno Santos, a orquestra “Maior partido da oposição” tem elementos que gostam de trocar as notas em plena atuação. Uma troca que se expande para lá da sala onde se ouve a música e que pode ter consequências em véspera de nova atuação.
Tudo isto é comunicação, tudo isto é a vida partidária, tudo isto é a vida governativa. Mas, pergunto-me, onde fica a coluna vertebral destes músicos que teimam em fazer sombra ao maestro? No caso da orquestra “Maior partido da oposição” não deverão os músicos “na reserva” respeitar os compassos? E não deverão os músicos suplentes saber esperar pela sua vez?
A orquestra “Maior partido da oposição” parece agora um jogo de xadrez, onde existem dois reis e onde o rei “na reserva” parece querer capturar o rei “no ativo”, que estava a começar a concentrar as forças para a próxima batalha (entenda-se eleições autárquicas). Mas, como já referi, em política gosta-se dos apartes, do comentário, da intriga, do caciquismo, do aparecer por magia quando se quer algo que ainda está no subterrâneo. E o que terá na manga o rei “na reserva”? El Rei D. Sebastião não é com toda a certeza! Será que era necessário tanto para “tirar o tapete” ao rei “no ativo”? O ponto de discórdia é alguém querido do cidadão eleitor, com obra feita e que soube vencer um terreno historicamente do Partido Comunista.
As orquestras enchem salas, mas o segredo está em cada músico que ao ler a sua pauta sabe exatamente quando deve entrar. Entrar a “pés juntos”, ou quando se quer algo que ainda está no subterrâneo, causa sempre ruído e corremos o risco de perder a audiência.
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