A diabetes tipo 2 é uma patologia metabólica crónica, distinguida pela presença persistente de hiperglicemia, isto é, níveis elevados de glicose no sangue. O seu desenvolvimento resulta de uma deterioração progressiva da capacidade do pâncreas de produzir insulina, associada a uma resistência à ação desta hormona em órgãos como o fígado e nos músculos. Fatores ambientais e comportamentais, como sedentarismo, alimentação e obesidade desempenham um papel no desencadeamento desta doença. A “sabedoria” convencional afirmava que a diabetes era irreversível, mas estudos recentes mostram que intervenções no estilo de vida podem alcançar a remissão da diabetes em pessoas com esta doença. Esta possível remissão da diabetes tipo 2 ocorre quando os níveis de açúcar no sangue retornam a um nível seguro e sem a necessidade de medicamentos para reduzir a glicose a longo prazo (>12 meses). Mas então o que é preciso fazer para isso acontecer?
Investigadores americanos quiseram determinar a taxa de remissão da diabetes tipo 2 em pessoas recentemente diagnosticadas com excesso de peso ou obesidade, com um programa de perda de peso e exercício de 6 meses. O estudo incluiu um programa de exercício físico, com sessões supervisionadas e caminhadas diárias, além de sessões semanais de aconselhamento comportamental sobre dieta e atividade física. Após a intervenção, que envolveu um aumento gradual da atividade física e redução calórica, os participantes perderam em média 9,7kg, melhoraram a capacidade aeróbia e apresentaram mudanças favoráveis na composição corporal. Oito dos dez participantes que completaram o estudo atingiram remissão parcial da diabetes.
Num estudo realizado em 2017, os participantes no grupo experimental seguiram um programa de reeducação alimentar, com o objetivo de perder pelo menos 15 kg de peso e manter essa perda. Medicamentos antidiabéticos e anti-hipertensivos foram interrompidos no início, com reintrodução apenas se necessário. Os participantes mantiveram a atividade física habitual, com pedómetros para aumentar a atividade até 15.000 passos diários. No grupo de intervenção, 46% dos participantes atingiram remissão da diabetes, em comparação com 4% no grupo de controlo. A remissão foi mais comum entre aqueles que perderam mais peso, com 86% de remissão entre os que perderam 15 kg ou mais. O grupo de intervenção perdeu, em média, 10 kg, enquanto o grupo de controlo perdeu apenas 1 kg e a qualidade de vida melhorou significativamente no grupo de intervenção.
Recentemente, investigadores da Universidade de Pequim na China analisaram 12 estudos envolvendo 3997 pessoas com diabetes tipo 2. Os programas no estilo de vida incluídos nos estudos foram, principalmente, intervenções nos hábitos alimentares e intervenções combinando dieta e atividade física. Os programas de atividade física incluíram treino aeróbio e treino de força de intensidade moderada, e atividade física como caminhadas. Os resultados indicaram que as alterações no estilo de vida impostas pelos programas foram eficazes para alcançar a remissão da diabetes, reduzir o peso e melhorar a qualidade de vida em pessoas com diabetes tipo 2.
Isto são evidências preliminares relevantes, indicando que mudanças para um estilo de vida saudável em pessoas com diabetes tipo 2 podem melhorar a qualidade de vida, havendo a hipótese de remissão da doença. Porém, para que estas mudanças ocorram, é necessário que as mudanças sejam mantidas. Não basta fazer o esforço para depois descansar à sombra da bananeira. É preciso continuar a ter um estilo de vida saudável, através da prática de atividade física e uma alimentação equilibrada, para que a doença deixe de ter impacto na vida das pessoas. De forma resumida, as recomendações dos investigadores são a prática de atividade física aeróbia como caminhadas, treino de força regular e manter ou aumentar a atividade física espontânea como dar mais passos. Além disso, um registo alimentar ajustado para a perda de peso pode contribuir para a melhoria da qualidade de vida.
Referências:
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