A judoca
Na apresentação de quem, na verdade, não precisa de apresentação, Rui Tavares Guedes, diretor executivo da VISÃO, lembrou que em mais de cem anos Portugal tem 24 medalhas olímpicas – e uma é de Telma Monteiro. “Houve mais batalhas e desilusões do que vitórias”, apressou-se Telma a explicar, no arranque do painel “Desafiar os Limites”.
O seu percurso não foi uma linha reta, apesar da queda natural para o desporto e para as atividades ao ar livre. “Cresci num bairro social. Fiz 4 lesões desportivas, mas tenho mais cicatrizes a saltar muros. Primeiro, tentei atletismo, mas não corria tão depressa como queria. Tentei depois futebol, mas não marcava muitos golos. Aos 14 anos, fui para o judo e percebi que tinha jeito a mandar pessoas ao chão.”
Telma queria mais e mais e mais. Uma ambição que muitas vezes passava por arrogância. Mas que dava resultados: com 18 anos, ao fim de apenas quatro anos de judo, apurou-se para os Jogos Olímpicos. “E queria logo uma medalha, mas não aconteceu. Nos seguintes voltou a não acontecer. À terceira tentativa, perdi no primeiro combate. Eu tinha 27 anos e já achavam que não ia acontecer. Ainda por cima, meses antes dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, rasguei o ligamento e fui operada. E ninguém demora tanto tempo a ganhar uma medalha. Ou ganhamos logo ou não ganhamos.”
Após todas as desilusões, todas as derrotas, e já quando ninguém acreditava, a medalha chegou – porque Telma nunca parou de acreditar.
O viajante
Gonçalo Cadilhe já fez uma volta ao mundo sem andar de avião. Mas fez, e faz, muito mais do que isso. O cronista de viagens que não fala de hotéis, mas sim de pessoas e de lugares, começou por revelar uma foto da sua primeira viagem, à África do Sul. “Achei que ia ser a última, que nunca mais teria dinheiro para viajar.”
Então, em 1992, foi convidado por Miguel Sousa Tavares para escrever crónicas de viagem na Grande Reportagem, que na altura saía 4 vezes por ano. Foi no México que percebeu o que queria fazer da vida. “A única vez que vi o meu pai a chorar foi quando lhe disse que não ia ser gestor de empresas, que era o curso que tirara na Católica.”
Nos primeiros tempos, não dava para viver disso. “Ia fazendo expedientes, como servir à mesa, nos sítios por onde andava. Mas foi ganhando nome, a Grande Reportagem tornou-se mensal e a persistência de Gonçalo deu frutos: em 1996, já vivia das viagens. Mais de 20 anos depois, é o que continua a fazer – a fazer o que mais ama.
O surfista
“Confesso que não tenho medo, mas tenho respeito.” É a resposta de Hugo Vau à pergunta que mais lhe fazem: como consegue surfar aquelas ondas terríveis da Nazaré, do tamanho de prédios? “Aquilo é como descer uma montanha enquanto uma avalancha nos persegue”, descreve. “Mas para afastar o medo foco-me no momento. E penso que estou a fazer o que gosto de fazer.”
Hugo, no entanto, nunca perde noção do monstro que está atrás dele. “É uma viagem que eu sei que pode não ter retorno. Mas o poder da mente é enorme. Mesmo quando caímos e ficamos nas mãos do gigante, aquela primeira golfada de ar é o que me faz sentir vivo.”
Mas a apoteose da intervenção de Hugo Vau no VISÃO Fest não foi falada, foi vista. Afinal, aquilo que o atleta faz não se consegue descrever só com palavras. A audiência no Capitólio acabou por ser brindada com as primeiras imagens do documentário que está a ser preparado sobre a onda que Hugo cavalgou no dia 17 de janeiro – provavelmente a maior de sempre que um ser humano alguma vez surfou. E é bom que não nos esqueçamos: a onda é portuguesa, mas o surfista também.
A VISÃO COMEMORA OS SEUS 25 ANOS DE EXISTÊNCIA NO CAPITÓLIO, ESTE FIM DE SEMANA. DEBATES, DUELOS CRIATIVOS, CONCERTOS, WORKSHOPS E ATIVIDADES QUE VÃO ANIMAR O CAPITÓLIO E TRAZER ATÉ SI A VISÃO AO VIVO NOS DIAS 21 E 22 DE ABRIL. A ENTRADA É LIVRE