A Dabox, aplicação que destacou-se por permitir agregar os movimentos financeiros de contas de diferentes bancos, vai deixar de funcionar no dia 1 de janeiro. Chega assim ao fim uma aplicação que foi pioneira no mercado português no conceito de open banking. Mas o fim da aplicação não significa o fim da marca Dabox – as funcionalidades desta aplicação vão agora ser integradas na aplicação principal do banco Caixa Geral de Depósitos (CGD), a Caixadirecta.
“A aplicação Dabox foi uma excelente plataforma de aceleração e experimentação das capacidades que o open banking oferece. Agora estamos prontos para alargar essas funcionalidades aos nossos clientes”, explicou Tomás Grilo, diretor da área de banca digital da CGD, em entrevista por telefone à Exame Informática a propósito da decisão de descontinuação da aplicação. “Consideramos que o open banking é maduro o suficiente para ser integrado e para não ser um serviço isolado”, acrescenta.
Lançada em 2019, a aplicação Dabox rapidamente conquistou um número significativo de utilizadores, tendo atingido os 55 mil poucos meses após o lançamento, fase que acabou por representar o pico de utilizadores para a aplicação, segundo Tomás Grilo.
Uma das vantagens da Dabox é que podia ser usada por utilizadores da maioria dos bancos portugueses, mesmo que não fossem clientes da Caixa Geral de Depósitos. Ou seja, apesar de agora integrar os serviços da Dabox na aplicação Caixadirecta, estes só estarão disponíveis para quem é cliente da CGD. “A grande fatia de utilizadores eram clientes da CGD, cerca de dois terços”, adianta Tomás Grilo.
Isto significa, por outro lado, que uma parte dos utilizadores da Dabox vão mesmo perder acesso às funcionalidades da aplicação e aos dados que lá tinham agregados: “Vão ser apagados”, adianta o responsável da área digital do banco.
Questionado sobre se esta decisão também foi feita para captar novos clientes, Tomás Grilo afirmou que não sendo a razão principal, também faz parte da estratégia da empresa. “Temos interesse que estes clientes [utilizadores da Dabox e não clientes da CGD] abram conta connosco”.
Efeitos colaterais de uma decisão que vai, segundo a CGD, beneficiar um número muito maior de pessoas. “Nós queremos alargar as funcionalidades [da Dabox] a um número maior de utilizadores, temos mais de 1,7 milhões de utilizadores na app Caixadirecta e o nosso objetivo passa por agregar as funcionalidades da Dabox dentro da Caixadirecta”.
Além de acrescentar um vasto rol de funcionalidades à app Caixadirecta de uma só assentada – como adicionar contas à ordem de outros bancos, visualização dos movimentos e respetiva classificação automática por categorias, e acesso a um resumo das receitas e despesas por períodos de tempo –, o banco também aprendeu com a utilização que as pessoas fizeram da Dabox.
“Aprendemos a oferecer e a sugerir serviços e produtos diferentes aos clientes de acordo com o seu perfil de investimento, e de acordo com o seu perfil de custos. E aprendemos a explorar melhor os dados do que explorávamos anteriormente”, acrescentou o responsável.
Mais novidades a caminho
A decisão de descontinuar a aplicação Dabox foi tomada há já vários meses e começou a ser comunicada aos clientes em novembro. “Nós tomamos a decisão no primeiro trimestre deste ano e desenvolvemos [a integração] ao longo do ano. Entrou em testes internos no verão e abrimos agora para os que eram os clientes da app isolada da Dabox no início de outubro”, explica Tomás Grilo.
Esta mudança no sistema da Dabox traz outra novidade. Para a aplicação isolada, a CGD usava a tecnologia da empresa sueca Tink para garantir a agregação de contas de diferentes bancos e a categorização dos movimentos e despesas dos utilizadores. Agora, é tudo feito com tecnologia própria. “Neste momento é tudo com tecnologia nossa. Toda a agregação de bancos, toda a análise financeira, toda a classificação de eventos. Tudo com prata da casa, digamos assim”.
A empresa desenvolveu um sistema baseado em técnicas de Inteligência Artificial para tratar “milhares de milhões de movimentos” e aprender a classificar esses movimentos (por exemplo, perceber que uma compra num supermercado deve ir para a categoria alimentação e um abastecimento numa bomba de gasolina deve ir para a categoria das despesas com transportes). Atualmente, a taxa de eficácia do sistema de categorização de despesas é de 97%.
Quem era utilizador da Dabox e já é cliente da Caixa Geral de Depósitos já pode aceder ao serviço na Caixadirecta (tem, no entanto, de ativar a função seguindo os passos: Menu > Gerir dia-a-dia > Vida financeira). Todos os outros utilizadores da Caixa, mas que não usavam a Dabox, vão ter acesso ao serviço a partir de janeiro.
Mas esta não será a única novidade da CGD para a aplicação Caixadirecta em 2024: “Temos várias novidades a lançar já no início do próximo ano. Ainda estamos a fazer afinações, ainda estamos a escolher se lançamos para todos os clientes ou não, mas são mesmo muitas”. Fica a promessa.