O “guru” do marketing político em Portugal, Luís Paixão Martins, autor do recente livro “Como perder uma eleição” (Livros Zigurate) escreveu, no Twitter, que “o 25 de Abril com Lula no Parlamento vai importar para Portugal o ambiente político brasileiro”. Mas acrescenta, com um emogi de sorriso irónico: “Enfim, é só um dia”. Pois. Mas é logo no pior dia possível. Ainda mal refeito – ou não refeito de todo – do imbróglio sobre as obras no Hospital Militar de Belém, que o obrigaram já, a comparecer no Parlamento, mais do que uma vez, para prestar esclarecimentos, que os deputados da Oposição não consideraram, de maneira nenhuma, satisfatórios, o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, parece apostado em arranjar lenha para se queimar: ultrapassando, alegadamente, as competências da Assembleia da República, aparentemente esquecido do princípio da separação de poderes, anunciou, durante uma recente deslocação ao Brasil, que o presidente Lula da Silva fará um discurso, no Parlamento português, durante a sessão solene do 25 de Abril – o que é completamente inédito, tratando-se de um chefe de Estado estrangeiro. Ora, aparentemente, nem os diversos grupos parlamentares, nem o próprio presidente da Assembleia, Augusto Santos Silva, sabiam de nada disto, sendo que compete à Assembleia fazer os seus próprios convites e determinar quem discursa e quem não discursa. Vozes insuspeitas, como a de Paulo Portas, que já foi ministro dos Negócios Estrangeiros, consideram que há pouca volta a dar: não se desconvida um Chefe de Estado estrangeiro (embora, no caso do Brasil, haja um precedente de “desconvite”, numa situação sem esta importância institucional, quando Jair Bolsonaro cancelou um almoço que tinha agendado com Marcelo Rebelo de Sousa).
Ora, por falar em Marcelo, convém puxar um pouco atrás o filme desta história. Mais precisamente, até à data da posse de Lula, em que o Presidente português esteve presente. Nessa altura, Marcelo disse, textualmente, à comunicação social portuguesa: “Foi marcado já o que vai ser o encontro, em Portugal, de 22 a 25 de abril, com a cimeira entre o Presidente Lula e o primeiro-ministro português e a visita de Estado, a meu convite, que culmina na participação na cerimónia do 25 de Abril”.