“Byron dizia que ‘embora os rapazes mandem pedras às rãs por brincadeira, elas não morrem a brincar mas a sério’. Esta frase sublinha um dos princípios fundamentais da cidadania que é o de termos consciência que os nossos gestos, mesmo os mais inocentes ou despreocupados, têm sempre efeito nos outros, têm sempre consequências. Viver em sociedade é isto. É pensar nos outros em cada gesto que fazemos. Não para sermos mais ‘gostados’, mais admirados, mas porque de facto tudo o que fazemos conta.
A ideia de cidadania está relacionada também com o entendimento daquilo que é o espaço público. Daquilo que não é nosso, mas de muitos, de todos. Essa perceção de que o espaço público, urbano ou não, é parte de um direito adquirido universal, é essencial. Todos os dias modelamos esses espaços, usamo-los e transformamo-los, a maior parte das vezes ao sabor dos nossos desejos, muito mais raramente ao sabor de um bem comum. Um bem comum que deve ser a matriz que nos direciona e que não pode distinguir raça, credo, idade ou capacidade financeira. O gesto da cidadania quer-se inclusivo. Sempre. A minha cidadania exerço-a em cada detalhe do que faço.
Nasci, afortunadamente, com uma consciência profunda da existência e importância dos outros e aprendi com os meus pais e com a minha família, que só assim é possível ser alguém, ser eu própria também. Embora sendo tendencialmente solitária, ser cidadã é um direito e um dever que me faz sentir, todos dias, que sem todos não somos nunca nada. Ser boa cidadã ajuda-me, também, tenho a certeza, a ser melhor pessoa. Se a nível particular a ideia de cidadania é algo que está sempre presente, o meu trabalho – por escolha – é também alicerçado nesse fundamento.
A vocação da experimentadesign, associação cultural sem fins lucrativos que co-fundei em 1998 e da qual sou presidente desde 2000, é essencialmente de serviço público. Através de um forte investimento na cultura, pilar essencial da nossa sociedade, provamos diariamente que este é um modo de reforçar a nossa cidadania. Através do design, mostramos como esta é uma ferramenta completamente vocacionada para tornar a nossa vida melhor, mais justa e igualitária. E que é uma ferramenta que todos podem aprender a utilizar.
Às vezes exercer a nossa cidadania é isto: mostrar caminhos novos e matrizes comuns, centrados nesta ideia segura de que somos uma espécie que escolheu, há muitos milénios atrás, viver e evoluir em grupo. O que implica um olhar constante sobre o outro. Sem margem para dúvidas ou para gestos inconsequentes.”