No fundo, eu sempre soube que tinha feito algumas fotografias nos anos 60. Ao princípio não consegui precisar em que ano, mas tinha a certeza de que nós éramos muito novos, de que fora quando os Beatles estavam mesmo a levantar voo. Nunca tentei encontrar essa coleção – conscientemente, isto é –, mas de certo modo pensei que ela acabaria por reaparecer no momento certo. Muitas vezes há uma certa dose de feliz acaso envolvida nisso. E em 2020, enquanto andávamos a preparar-nos para uma exposição de fotografias da minha falecida esposa Linda, mencionei que tinha feito as minhas próprias fotos, as quais, soube eu então, tinham ficado guardadas nos meus arquivos MPL. Por isso, quando as vi pela primeira vez ao fim de tantas décadas, fiquei encantado por essas imagens e as folhas de contacto terem sido cuidadosamente preservadas e finalmente localizadas.
Quem redescobre uma relíquia pessoal ou um tesouro familiar é instantaneamente inundado por memórias e emoções, que depois desencadeiam associações sepultadas nas brumas do tempo. Foi exatamente essa a minha experiência ao ver estas fotografias, todas elas feitas durante um intenso período de três meses de viagem, que culminou em fevereiro de 1964. Foi uma sensação maravilhosa porque elas fizeram-me mergulhar de novo em tudo aquilo. Aqui estava o meu próprio registo da nossa primeira grande viagem, um diário fotográfico dos Beatles em seis cidades, começando em Liverpool e Londres, às quais se seguiram Paris (onde John e eu tínhamos ido à boleia pouco mais de dois anos antes), e depois aquele que considerámos ser o grande momento, a nossa primeira visita à América enquanto grupo – Nova Iorque, Washington e Miami –, àquela terra onde, pelo menos assim pensávamos, tinha nascido o futuro da música.