O parlamento francês (Assembleia Nacional) aprovou, por maioria, um projeto de lei que não permite a utilização de telemóveis e smartphones nas escolas já no próximo ano letivo. Os alunos até aos 15 anos, que frequentem as escolas públicas, vão passar, assim, por uma espécie de “desintoxicação tecnológica”, como foi chamada em França.
O ministro da Educação afirmou, em Paris, que “ninguém poderá encontrar o seu caminho num mundo tecnológico se não souber ler, escrever, contar, respeitar os outros e trabalhar em equipa”.
A questão prende-se com o tempo que os miúdos passam agarrados aos telefones durante os tempos de recreio.
Em Portugal, os telemóveis são proibidos dentro da sala de aula, mas no recreio não. Mesmo assim, há exceções. “Há professores que dizem aos alunos para usarem nas aulas para uma determinada pesquisa”, diz Filinto Lima, da direção da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas. Este professor não concorda com a lei francesa. “É uma medida repressiva. É cortar o mal pela raiz e fazer da escola a má da fita, quando este é um problema que envolve toda a gente.”
Filinto Lima está “curioso” para saber os “resultados” da aplicação da lei que, na sua opinião, vai “gerar mais indisciplina” porque o telefone passa a ser “o fruto proibido”. Concorda que os miúdos “brincam” em frente ao ecrã e o usam em demasia e que devia haver uma “campanha de sensibilização” sobre o tema, no entanto, diz, “temos de perceber todos os limites do bom uso de uma máquina dos nossos tempos”.
A pedopsiquiatra Ana Vasconcelos é da mesma opinião. “Proibir é demasiado radical e não penso que seja pedagógico em crianças desta faixa etária”. A médica prefere que, primeiro, se encontrem “os motivos por que os miúdos estão muitas vezes com os telefones nas mãos”, para, depois, “contrapor com medidas”.
No Agrupamento de Escolas D. Filipa de Lencastre, em Lisboa, os telemóveis brilham na hora do recreio. É um cenário comum a todos os estabelecimentos de ensino. Os dedos tocam nos ecrãs a velocidades estonteantes, veem-se vídeos, ouve-se música, trocam-se mensagens ou atualiza-se o Instagram.
“Eles deixam de brincar, não convivem”, refere Miguel Peixoto, da direção de Associação de Pais e Encarregados de Educação desta escola da capital. “Não é recomendável a utilização dos telefones no espaço escolar. Haveria um ambiente mais saudável sem o aparelho”, atesta, vincando que se trata da sua opinião.
O assunto do uso dos telefones já foi abordado com a direção da escola, mas “essa é uma medida que não pode ser tomada por uma direção escolar. Tem de ser transversal”, explica.
Assim como os dois anteriores entrevistados pela VISÃO, Miguel, que também é professor, diz que o “smartphone é um tema muito mais abrangente do que só o seu uso na escola. Não nos esqueçamos que muitas crianças, em casa, estão até às duas ou três da manhã agarrados àquilo”.