Quem nunca ouviu dizer que eram as novas versões do trigo moderno as responsáveis pelo aumento da doença celíaca e intolerância ao glúten? Que era por isso que havia tanta gente a mudar de regime e a deixar de comer produtos derivados deste cereal (que existe na dieta humana há 10 mil anos), optando por outros, que muitas vezes trazem na sua composição quantidades enormes de gordura e escassa fibra?
Nada como a ciência para desmentir a vox populi, que por vezes se transforma em verdade absoluta. Em 2012, o investigador José Miguel Ribeiro, 29 anos, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) atirou-se a uma tese de doutoramento em genética molecular para perceber de que forma o melhoramento do trigo influenciava a saúde de quem o ingeria. E afinal descobriu que há variedades deste cereal com sete vezes menos toxicidade para doentes celíacos. “Os resultados da investigação indicam que, além do potencial genético que o trigo encerra, as práticas de melhoramento desta cultura não contribuem para o aumento da toxicidade destas variedades”, explica o responsável da UTAD.
Ao mesmo tempo, este projeto desenvolveu novas tecnologias de destoxificação do glúten. Através da quitosana – ingrediente natural com características biocompatíveis e biodegradáveis, que sequestra as proteínas tóxicas – reduz-se a carga de toxicidade, permitindo assim a continuidade de utilização da sua farinha em pão, bolos, massas, pizzas, e outros produtos que feitos com base em trigo.
Se a indústria passasse a utilizar esta tecnologia saída da investigação universitária, os celíacos poderiam comer exatamente da mesma forma do que quem não sofre dessa doença, sem perdas de nutrientes importantes. Já foi pedida uma patente para esta invenção, que aumentaria a qualidade de vida dos celíacos. Se tudo correr bem, depois de uma bateria de ensaios que ainda se prolongará (demasiado) no tempo, o produto deverá ficar disponível no mercado. Para alegria de 1% da população (e muitos mais que não o ingerem porque embarcaram na moda).