Foi um debate de questões essenciais. Com visões muito diferentes sobre o mundo e a falar para eleitorados radicalmente opostos, os candidatos Tiago Mayan Gonçalves e Marisa Matias nunca estiveram de acordo, mas tiveram tempo para expor as suas perspetivas sobre temas estruturantes, como saúde e finanças.
Estes foram os principais momentos do debate.
Confinamento, com ou sem escolas fechadas?
Marisa Matias:
“O que devemos fazer é ouvir os especialistas, as autoridades de saúde e tirar daí conclusões para dar a melhor resposta possível.”
“Eu sou favorável ao estado de emergência.”
Tiago Mayan Gonçalves:
“O que eu disse é que o país não aguenta um novo confinamento generalizado, mas não fui só eu. O primeiro ministro também o admitiu. Se o primeiro-ministro está a mudar de opinião [sobre o confinamento] é porque algo muito grave se passa.”
Marisa Matias:
“É irresponsável votar contra o estado de emergência só para fazer uma declaração politica.”
Contexto: O debate iniciou-se com a posição de cada um dos candidatos face ao provável anuncio de um novo período de confinamento, na próxima semana. À pergunta sobre se as aulas devem manter-se a funcionar presencialmente, dirigida a Marisa Matias, esta quis deixar claro – apesar da abstenção do Bloco de Esquerda na votação de mais um estado de emergência – que é a favor de medidas mais restritas contra o aceleramento dos números da pandemia. Já Tiago Mayan voltou a chamar a atenção para a questão dos apoios às empresas e aos cidadãos que possam ser impedidos de trabalhar, defendendo uma “indemnização imediata às atividades obrigadas a fechar”. Sobre o confinamento, o liberal indicou ainda que precisa de esperar para ouvir os especialista na reunião no Infarmed, na próxima terça-feira: “se o cenário que nos apresentarem for um cenário de guerra com pessoas a morrer à porta dos hospitais então a situação é distinta”.
SNS e os privados: “a diferença de fundo”
Tiago Mayan Gonçalves:
“Preço de custo é impossível. Tem de ser a justa compensação.”
“A Marisa Matias pretende a nacionalização de todos os hospitais e laboratórios privados. Eu quero um sistema nacional, não é um sistema de castas. O SNS permite acesso aos funcionários públicos, com ADSE, e às pessoas com seguros de saúde. Quem não tem [ADSE ou seguros] tem acesso universal às listas de espera e morre nas listas de espera.”
Marisa Matias:
“Felizmente, não foi a resposta do mercado que nós tivemos nesta pandemia. Eu sempre defendi o recurso a todos os meios disponíveis. Agora, o recurso aos privados tem de ser feito com o controlo do SNS e a preços de custo.”
Contexto: Se duvidas havia de que a candidata do bloco de esquerda e o da iniciativa liberal tinham posições opostas sobre a forma como devem ser geridos os cuidados de saúde em Portugal, estas ficaram esclarecidas. Marisa Matias foi perentória a defender o Serviço Nacional de Saúde tal como este foi pensado há 41 anos: público, de acesso universal e tendencialmente gratuito. Na sua visão, os privados coexistem com o SNS e podem auxiliá-lo, desde que a preço de custo. Pelo contrário, Tiago Mayan Gonçalves pretende que os cidadãos possam escolher se querem ser atendidos no público ou no privado, sem que lhes seja cobrado mais por isso. No entanto, o candidato deixa por explicar como é que este modelo seria aplicado na prática.
Proteção laboral
Tiago Mayan Gonçalves:
“Na realidade que temos em Portugal, as desigualdades são tremendas. Durante os últimos anos não foram liberais que estiveram no Governo. Nos últimos 19 anos foram socialistas, agora apoiados pela geringonça, e nós somos o país da OCDE que tem leis laborais mais rígidas. Qual é o resultado? Baixos salários.”
Marisa Matias:
“As pessoas não se esqueceram de como foram as politicas liberais no emprego com Passos Coelho e a Troika. E na altura, Tiago Mayan apoiava o Governo.”
A economia
Tiago Mayan Gonçalves:
“O esforço fiscal dos portugueses tem sido aumentado continuamente ao longo das últimas décadas. As pessoas não vivem para pagar impostos. Vivem para viver a sua vida e dar a sua comparticipação.”
“Estamos num país em que não há to big to fail.”
Marisa Matias:
“[Tiago Mayan] gosta de falências e não se importa que milhares de pessoas vão para o desemprego.”
Contexto: Chegados ao tema dos impostos, Tiago Mayan chama a Portugal um “inferno fiscal” e “isso faz com que não cresçamos há décadas e que estejamos a caminho de sermos um dos países mais pobres da Europa”. Diagnóstico: “O Estado está a mais”. No entanto, o liberal não apontou soluções para o sistema financeiro, tendo-se apenas mostrado incrédulo com os “21 milhões de euros enterrados na banca” e o dinheiro para a TAP. No mesmo capítulo, Marisa Matias, critica a atitude do adversário político, lembrando, no caso da companhia aérea portuguesa, que é a “nossa maior exportadora e que precisamos desse tipo de empresas”.