A moderadora do debate, desta quarta-feira, entre o comunista João Ferreira e o liberal Tiago Mayan Gonçalves, a jornalista da TVI, Carla Moita, tentou iniciar uma conversa – que já se anunciava repleta de opiniões opostas – com um consenso: o agravamento da situação epidemiológica do país.
No dia em que Portugal ultrapassou a barreira dos dez mil casos de Covid-19 em 24 horas e em que se votou a renovação do Estado de Emergência, tanto Tiago Mayan como João Ferreira apontaram que este não é o caminho para lidar com a pandemia, mas a consonância ficou por aqui num debate morno.
Discutiu-se depois os formatos da campanha eleitoral, a crise económica, a intervenção estatal na banca e uma possível segunda volta eleitoral. Conheça os principais argumentos de cada um dos candidatos presidenciais. Eis os momentos mais marcantes:
Estado de emergência? Não
João Ferreira:
“O estado de emergência não contribuiu, até agora, em nada para adotar as medidas imprescindíveis para defender a saúde das pessoas.”
“As medidas de emergência têm de passar pelo reforço do Serviço Nacional de Saúde, medidas de intervenção sobre os cuidados intensivos e no rastreamento das cadeias de transmissão. É preciso mais meios.”
Tiago Mayan Gonçalves:
“Isto é uma prova do falhanço deste Governo na gestão da crise.”
“Temos de usar toda a capacidade instalada do país. Ao dia de hoje ainda não o estamos a fazer por preconceito ideológico deste Governo, apoiado também pelos seus parceiros de Geringonça, que o João representa aqui.”
Contexto: O Parlamento aprovou, esta quarta-feira, o oitavo estado de emergência por causa da pandemia, mas, desta vez, apenas por oito dias para que seja possível ouvir a avaliação dos especialistas no Infarmed (dia 12 de janeiro) antes de ser determinado que as eleições presidências vão acontecer com esta contingência em vigor. Tanto o PCP – partido de João Ferreira – como o a Iniciativa Liberal – partido de Tiago Mayan – votaram contra a renovação do estado de emergência e, no debate, a ideia de que a liberdade individual está a ser colocada em causa desnecessariamente foi a única que os uniu. Ambos acreditam que há outras medidas que até trariam efeitos mais positivos no combate à pandemia.
Campanha com vírus à mistura
João Ferreira:
“Não estamos a fazer o tipo de iniciativas que são habituais. Temos de garantir a proteção das pessoas, mas também temos de conseguir mobilização, esclarecimento.”
Tiago Mayan Gonçalves:
“Eu não quero fazer o que não é permitido ao cidadão comum. E não vou fazer. Quero estar com as pessoas, mas, apesar de não concordar com as medidas avulsas, vou respeitá-las.”
Contexto: Esta vai ser certamente uma campanha eleitoral muito diferente das anteriores, marcada mais pela comunicação à distância do que pela pessoal. Ambos os candidatos salientaram isto mesmo, sem adiantarem, em resposta à pergunta da moderadora, que tipo de eventos terão os seus calendários eleitorais.
Crise, com ou sem austeridade?
João Ferreira:
“Eu não me revejo numa dicotomia entre a saúde e a economia. Temos é de criar as condições para defender a saúde das pessoas, garantindo que a vida continua nas suas variadas dimensões.”
Tiago Mayan Gonçalves:
“O que se ouve é a palavra ‘gastar’. O que quero é que esse dinheiro comece a ser devolvido aos cidadãos. Os fundos europeus bem aplicados não levarão a esse tipo de medidas.”
Contexto: Questionados sobre se a crise económica tem de ser sinónimo de austeridade, ambos os candidatos rodearam a questão. E se João Ferreira apontou soluções para evitar a crise – tais como reforçar a capacidade de produção nacional e evitar as importações, valorizando os rendimentos dos cidadãos – Tiago Mayan optou dizer que “o Estado esmaga as empresas com impostos e burocracias”, sem apresentar uma solução concreta.
E se o Novo Banco voltasse?
João Ferreira:
“Se o estado paga, o Estado tem de ser dono. Se o Estado intervém tem de o pôr ao serviço do país.”
Tiago Mayan Gonçalves:
“Lucros privados, prejuízos privados. Nunca deveriam ter existido estes apoios.”
Contexto: Depois do dinheiro que o Estado colocou para ajudar a banca, a moderadora quis saber o que cada um dos candidatos faria se fosse eleito e surgisse um caso semelhante ao do Novo Banco.
Segunda volta
João Ferreira:
“Estamos a construir o resultado das eleições, a segunda volta constrói-se agora. Eu estou a fazer o possível para abrir um horizonte de esperança no país.”
Tiago Mayan Gonçalves:
“Eu não vou decidir por vocês [eleitores]. Toda a base da minha candidatura é dizer às pessoas que lhes vou devolver o poder.”
Contexto: Ambos recusaram o desafio da jornalista para identificar um candidato que apoiariam na eventualidade de uma segunda volta. Tiago Mayan argumentou que não pode escolher por ninguém. Já João Ferreira trouxe o tema para o presente e aproveitou para reforçar a confiança na candidatura que apresenta.