No Largo do Rato e no Palácio de Belém seguem-se com atenção as notícias que vão saindo sobre a situação patrimonial do primeiro-ministro. E está tudo em aberto. “Não excluímos nada. Para já, ainda estamos a avaliar os melhores mecanismos para obtermos os esclarecimentos que têm sido pedidos por nós e pela comunicação social”, diz à VISÃO um alto dirigente socialista, explicando que mesmo tendo Pedro Nuno Santos anunciado imediatamente a inviabilização da moção de censura do PCP, o PS não põe de parte a possibilidade de avançar com a sua própria moção de censura, caso não sejam esclarecidas todas as dúvidas sobre Luís Montenegro. Para já, vai avançar para uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Em Belém, Marcelo Rebelo de Sousa também espera para ver. A VISÃO sabe que o Presidente prefere, por agora, esperar pelos partidos e perceber como é que o Parlamento se comporta. As notícias que forem saindo sobre o caso podem, porém, fazer Marcelo entender que é tempo de o Presidente agir para salvaguardar o prestígio das instituições democráticas.

Com a atenção toda centrada em Luís Montenegro, não está fora de hipótese nem a dissolução do Parlamento (que o Presidente só pode decretar até setembro) nem a possibilidade de substituir o primeiro-ministro, sem convocar eleições (coisa que o Presidente pode fazer mesmo depois de perder o poder da bomba atómica). O argumentário para substituir Montenegro sem ir a eleições não seria fácil, uma vez que Marcelo Rebelo de Sousa não aceitou a possibilidade de António Costa ser substituído por Mário Centeno, como queria o PS. No entanto, as circunstâncias não são exatamente as mesmas. A sucessão de crises políticas internas e a volatilidade da política externa, associada a sinais de sondagens que venham a mostrar um cenário fragmentado do Parlamento, podem dar argumentos a Marcelo para desta vez ter um entendimento diferente. A ideia de que Luís Montenegro pode vir a ser substituído por outro social-democrata (nos bastidores fala-se em Pedro Passos Coelho ou Carlos Moedas) e a moção de censura avançada pelo PCP aumentam a pressão sobre Pedro Nuno Santos.