“É preciso clareza nas palavras”, diz à VISÃO João Rodrigues, economista e um dos membros da Iniciativa dos Comuns sobre o manifesto “pela paz, liberdade e Estado Social”, que não hesita em chamar “genocídio” ao que está a acontecer na Palestina e convoca todos a juntarem-se nas manifestações que decorrerão este sábado em Lisboa e no Porto, mas que, como nota Rodrigues, se “inscrevem num movimento internacional e internacionalista” contra o massacre de palestinianos e contra a corrida armamentista na Europa.
“A palavra genocídio e particularmente importante”, defende João Rodrigues, lembrando que “ainda há setores progressistas que não usam a palavra”, mas que ela já é amplamente usada por vários especialistas internacionais na matéria para descrever uma ação de guerra que tem já matou 50 mil crianças. “É preciso ter noção da escala. Não há precedentes”, vinca, explicando que é importante sair à rua para pressionar o poder político a agir e para contrariar uma narrativa que tenta justificar o morticínio em Gaza com o terrorismo do Hamas.
Sem medo das palavras, João Rodrigues diz que “o que está a acontecer é um ato deliberado de eliminação física de um povo, que se inscreve num programa de patrocínio de uma corrida armamentista, que é o pretexto para mais um ataque ao Estado Social.
“Não podemos permitir que o autoritarismo e a guerra tomem de assalto as nossas vidas”
O manifesto que serve de mote às manifestações deste sábado reuniu cerca de 600 assinaturas em apenas dois dias, entre as quais se encontram pessoas com ligações ao PCP, ao BE e ao PS, artistas, jornalistas e até o procurador António Cluny.
Mas a ideia é que este abaixo-assinado e os protestos que convoca sejam apenas o começo de uma campanha mais vasta. “Este manifesto é um passo no sentido de tornar clara a ligação entre a guerra, a liquidação do Estado Social e a destruição das liberdades democráticas. Para além de mostrar esta deriva perigosa e mortal vai-se, a partir desta iniciativa, fazer um conjunto de ações pela paz, liberdade e o Estado Social. Não podemos permitir que o autoritarismo e a guerra tomem de assalto as nossas vidas”, declara à VISÃO Nuno Ramos de Almeida, jornalista e um dos elementos da Iniciativa dos Comuns.
O texto do manifesto é, de resto, um alerta para a forma como a retórica da guerra é usada para corroer os direitos e as liberdades nas democracias.
“Vivemos uma época em que os governos instigam ao medo e à xenofobia para aumentar o negócio das armas e naturalizar a imposição de um estado de guerra permanente que liquide os nossos direitos sociais e restrinja as liberdades democráticas”, lê-se no manifesto, que recusa a meta assumida pelo Governo português, que se comprometeu com a NATO a aumentar a despesa com Defesa para 5% do PIB em dez anos.
“Não precisamos de 5% do PIB para a guerra, mas de mais investimento para uma sociedade e um mundo mais justos”, defendem os subscritores do texto, que querem “travar a guerra no Médio Oriente e o genocídio em curso na Palestina, promover e construir a paz, impedir a corrida aos armamentos, recusar limitações à democracia e à liberdade”.