A demissão de Ricardo Leão na sequência das polémicas declarações do autarca de Loures que queria despejar de casas municipais quem se tivesse envolvido nos desacatos ocorridos na sequência da morte de Odair Moniz abriu uma crise naquela que é uma das maiores estruturas do PS. Esta quarta-feira, a Comissão Federativa da Federação da Área Urbana de Lisboa (FAUL) reúne para decidir de que forma será feita a sucessão. Mas, sabe a VISÃO, além de Miguel Prata Roque e de Pedro Pinto de Jesus, o vice-presidente de Leão na FAUL, Filipe Santos Costa será também candidato.
Ao que a VISÃO apurou, Pedro Pinto deverá propor à Comissão Federativa a realização de eleições intercalares diretas apenas para a liderança da FAUL. Uma proposta que evita a realização de um congresso federativo, que será sempre dispendioso e fará com que o processo se arraste.
Congresso ou diretas?
A proposta suscita dúvidas entre alguns socialistas, mas há um acórdão do Tribunal Constitucional relativamente a uma situação semelhante na Federação do PS de Coimbra que sustenta a legalidade desta opção, que mantém todos os órgãos federativos, substituindo apenas a liderança.
Apesar disso, entre os apoiantes de Miguel Prata Roque essa não é a opção favorita. Prata Roque já fez saber os mais próximos que preferiria que houvesse pelo menos uma convenção federativa para que pudesse ser discutida uma moção de orientação política. É que, se isso e para todos os efeitos, o próximo líder da FAUL terá de trabalhar com a moção de Ricardo Leão.
O processo, sem congresso ou convenção, demorará 40 dias, um prazo apertado para garantir a recolha de assinaturas para formalizar as candidaturas e assegurar o pagamento de quotas que permite aos militantes (nas eleições de setembro eram cerca de sete mil) poderem exercer o seu direito de voto.
Se o facto de os prazos serem apertados pode condicionar as candidaturas, há no PS Lisboa quem veja isso como uma vantagem. Encerrar o capítulo da liderança da FAUL permitirá à estrutura concentrar-se a fundo nas autárquicas de 2025 e, sobretudo, naquele que é o principal e o mais difícil dos objetivos: ganhar Lisboa a Carlos Moedas.
Pedro Nuno Santos já tinha dado internamente o sinal de que anunciaria candidatos a Lisboa e Porto depois de encerrado o processo do Orçamento do Estado, cuja votação final global está marcada para o final de novembro. Há em Lisboa alguma impaciência para ter rapidamente um candidato no terreno a fazer marcação a Moedas e o medo que este processo da FAUL atrapalhe esse objetivo.
Os três candidatos
Miguel Prata Roque foi o primeiro a apresentar-se como candidato e congregará essencialmente o voto livre, uma vez que não tem peso na estrutura socialista, mas conta já com o apoio de alguns carneiristas mas também de pedronunistas.
É que, Prata Roque, tendo apoiado Pedro Nuno Santos (de quem se aproximou no Governo) nas últimas diretas, tem estado desde a JS em grupos opostos aos de Pedro Nuno, tendo sido sempre mais centrista do que o atual secretário-geral.
Pedro Pinto de Jesus é o vice-presidente de Ricardo Leão, sendo por isso o candidato da continuidade. Mas tem outro trunfo: é bastante próximo de Duarte Cordeiro, que é talvez a pessoa mais influente na máquina socialista e mais ainda em Lisboa onde controla todas as tropas (mais até do que Pedro Nuno).
Filipe Santos Costa, antigo presidente da AICEP e foi demitido pelo atual Governo a poucos dias de concluir o seu primeiro ano de mandato, tendo saído com críticas à partidarização da agência.
Segundo o relatório e contas de 2023 da AICEP, citado pelo Expresso, no ano em que Santos Costa esteve à frente deste organismo, a agência estatal angariou 3,5 mil milhões de euros em novos projetos, com um crescimento de 30% nos projetos industriais.