Ao contrário do que tem sido normal em Montenegro, desta vez o Governo não conseguiu esconder o nome de Albuquerque até ao momento do anúncio, esta quarta-feira. Há dias que circulava que a ex-ministra das Finanças Maria Luís seria a escolha para enviar a Ursula Von der Leyen.
A presidente da Comissão Europeia pediu aos chefes de Estado e de Governo da União para enviar dois nomes, um homem e uma mulher, tentando alcançar a até aqui nunca conseguida paridade. Nenhum o fez. E, até agora, a maioria dos nomes que Von der Leyen tem em cima da mesa pertencem a homens, numa clara desautorização à presidente da Comissão Europeia.
Até este momento, o Governo português não fez saber qual a pasta que tem em vista, mas o facto de ter indicado uma mulher pode dar a Montenegro pontos extra na hora de atribuir responsabilidades.
Os polémicos swap
Maria Luís Albuquerque era uma perfeita desconhecida até rebentar a polémica em torno dos swap, um instrumento de investimento financeiro considerado altamente especulativo e de risco.
Na Refer, onde foi diretora financeira entre 2001 e 2007, tinha estado envolvida no processo de compra deste tipo de ativos. Embora os swap que esta empresa adquiriu tenham sido considerados não problemáticos pela Agência de Gestão da Tesouraria e do Crédito Público, cinco deles foram cancelados, com a Refer a pagar 12,5 milhões de euros às instituições financeiras pela sua liquidação antecipada.
A mulher que provocou o “irrevogável”
Antes, porém, de chegar a ministra, Maria Luís Albuquerque esteve no epicentro de uma crise política que quase deitava abaixo o Governo de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas. Foi por sua causa que aconteceu o famoso “irrevogável”.
Portas, então ministro do Estado e dos Negócios Estrangeiros, não queria Maria Luís para substituir Vítor Gaspar, que estava de saída para o FMI e deixando a pasta das Finanças. O líder do CDS queria alguém, como Paulo Macedo, que desse garantias de uma mudança de rumo nas Finanças. A tensão em torno de várias das medidas de Gaspar, como a intenção de descida de TSU para os patrões que esbarrou na contestação popular, era grande, com Portas a mostrar-se abertamente contra a linha de Passos, que não oferecia resistência aos planos de austeridade da Troika.
Maria Luís Albuquerque foi também o rosto da venda do Banif e do BPN a preço de saldo. E foi durante o seu mandato que aconteceu a resolução do BES.
A quase ida para Bruxelas e as ameaças do marido
Nessa altura, Pedro Passos Coelho tinha pensando em indicar Maria Luís para comissária europeia, depois de Jean-Claude Junker ter pedido uma mulher para o cargo. Mas a queda do BES fez Passos entender que não podia libertar Albuquerque das Finanças. E foi Carlos Moedas que seguiu para Bruxelas.
Maria Luís Albuquerque esteve ainda envolvida numa polémica por conta do seu marido, ex-jornalista nomeado consultor da EDP, uma empresa privatizada por Maria Luís. António Albuquerque foi condenado por coação por ter enviado mensagens a jornalistas tentando impedir que publicassem notícias que envolviam a ministra. “Tira a minha mulher da equação, se não vou-te aos cornos”, foi uma das mensagens enviadas ao então jornalista do Diário Económico, Filipe Alves, que lhe valeram a condenação.
Até depois de ter abandonado o Governo Maria Luís esteve envolta em polémica. É que saiu do Governo para trabalhar na Arrow, uma financeira que comprou o crédito malparado do Banif. Mais: Maria Luís quis continuar como deputada enquanto trabalhava para esta financeira. Em 2021, voltaria ao IGCP.
Uma estrela no PSD
Apesar de todas as polémicas, Maria Luís Albuquerque ganhou muita popularidade no PSD, onde foi uma das figuras do passismo.
Chegou a ministra sem qualquer percurso partidário, mas essa popularidade fez com que, muitas vezes, no PSD fosse apontada como uma possibilidade para a liderança do partido, ainda que sem máquina partidária por detrás.
De resto, foi cabeça de lista por Setúbal, um distrito complicado para o PSD, nas eleições de 2015. E só não voltou a ser candidata, apesar da pressão do PSD em Setúbal, porque Rui Rio a tirou das listas.