“No início da pandemia, senti que as pessoas iam unir-se muito mas, sendo uma crise duradoura, sabia que começariam a dividir-se ainda mais do que antes”. É assim que Francisco Cordeiro de Araújo, estudante de Direito Internacional, começa por contar à VISÃO como decidiu pôr em prática o projeto Os 230, ideia que se adensou no decorrer da crise de Covid-19 no País. “Sentia cada vez mais, muito também na minha geração, que vivíamos numa sociedade muito entrincheirada, em que as pessoas se fechavam nas suas posições e em que havia muita desconfiança, principalmente em relação ao poder político”, defende. E decidiu, nas suas palavras, não perder mais tempo.
Fundado em agosto do ano passado pelo jovem de 23 anos, Os 230 é, atualmente, constituído por 35 pessoas, entre os 16 e os 28 anos, de vários cantos do País e diferentes áreas, desde engenheiros a veterinários e marketeers. E o objetivo do movimento, independente e apartidário, é muito simples: fazer com que os cidadãos conheçam os 230 deputados do Parlamento e diminuir, desta forma, a distância entre todos. “Mais do que nunca, as decisões do poder político têm um grande impacto na nossa vida e podem, até, condicionar direitos, liberdades e garantias, portanto é importante conhecermos quem legisla, quem nos governa, quem exerce e está presente nesse poder político”, explica Francisco.
Em entrevistas realizadas na Assembleia da República, que são partilhadas nas várias plataformas do projeto – instagram, facebook e youtube – os deputados são convidados a falarem, através de uma perspetiva mais pessoal, sobre a sua infância e percurso académico, o início do interesse pela política, pessoas de outras bancadas parlamentares que respeitam, mas também sobre os seus gostos literários e musicais.
E o feedback do público tem sido, até agora, muito positivo. “Recebemos várias mensagens de pessoas que dizem, por exemplo, que antes não votavam e que agora já se identificam mais com certos deputados”, conta o fundador do projeto, que explica que, acima de tudo, notou uma maior tolerância na abordagem aos políticos, no geral. “Pessoas que não davam credibilidade a determinado deputado disseram-nos que, agora, mesmo não se identificando com as suas ideias, respeitam-no porque tem um percurso enquanto pessoa e uma forma própria de pensar”, acrescenta, referindo não acreditar que a democracia “se faça apenas de um conjunto de partidos e programas eleitorais”. “As pessoas também contam”, diz.
Embora tenha maior impacto nos jovens, já que são eles os mais ativos nas redes sociais, o projeto pretende chegar a toda a gente. “É necessário modificar um conjunto de coisas que são anacrónicas: os políticos não terem medo de mostrar que se respeitam mutuamente e que a política é uma troca de ideias, algo que aparece por alguma razão”, defende o estudante.
Desde 21 de setembro, data da primeira entrevista, foram já entrevistados cerca de 40 dos 230 deputados do Parlamento. Relativamente aos candidatos à Presidência da República, que se decide este domingo, 24 de janeiro, quatro deles conversaram com Francisco: Marisa Matias, João Ferreira, Tiago Mayan e Vitorino Silva.
Mais projetos em vista
De acordo com o fundador do projeto, é um dever de toda a sociedade – e não apenas dos 230 deputados presentes na Assembleia da República – lutar pela democracia. Por isso mesmo, lançou, recentemente, o Democracia 101, um projeto que promove a literacia política e democrática através da realização de textos e vídeos onde se explicam particularidades da própria democracia. “O objetivo é dar ferramentas às pessoas para que tomem as decisões por si e compreendam melhor como funciona o sistema”, esclarece o jovem.
Está, também, em andamento o Sociedade 2-30, que pretende criar conversas com várias personalidades sobre assuntos da sua área de especialidade, mas também acerca da importância da responsabilidade cívica.
“Pretendemos, também, lançar um conjunto de iniciativas com atuação nas escolas, para promover a cidadania ativa e a democracia nos mais jovens”, refere Fracisco Cordeiro. “A política não pode ser o hobbie de alguns quando é uma realidade de todos e, se estamos todos envolvidos na sociedade e nos precoupamos com a vida em comunidade, é preciso termos esses conhecimentos”, afirma.