Até ver, é a reação mais arrojada desde que, a 19 de julho deste ano, a VISÃO revelou os esquemas alegadamente fradulentos da reconstrução de casas em Pedrógão Grande. O PS, pela voz do presidente da Federação Distrital de Leiria, António Sales, recusa retirar a confiança política ao líder da autarquia mais afetada pelos incêndios de 17 de junho de 2017 e é categórico quando questionado pela VISÃO: “Até que se esgote o princípio de presunção de inocência, nós acreditamos e estamos com o nosso presidente Valdemar Alves e com o respetivo executivo!”, garante o dirigente socialista.
António Sales observa que o seu partido, “como qualquer cidadão português, no respeito pelas instituições, pelas vítimas de Pedrógão e pelos lesados de Pedrógão, quer é que se esclareça cabalmente a verdade” sobre os processos presumivelmente irregulares, em que dezenas de cidadãos – eventualmente com conivência e/ou incentivo dos poderes públicos locais – terão alterado as moradas fiscais para casas em que não habitavam permanentemente, já em datas posteriores aos fogos terem lavrado naquele concelho, para que pudesse beneficiar dos donativos recolhidos por diversas instituições.
Para a avaliação da legalidade ou não destes processos, acrescenta o responsável distrital do PS, existem entidades próprias, “como o senhor primeiro-ministro e secretário-geral do PS já disse”. “Portanto, remeto para as entidades legitimadas, nomeadamente para o Ministério Público”, acrescenta. “O PS não faz política com coisas sérias e com situações lesaram pessoas, que destruíram bens materiais. O PS tem uma atitude séria e responsável”, atira António Sales, para quem é impossível fazer nem que seja uma reflexão política das suspeitas levantadas em primeira mão pela VISÃO e, mais recentemente, por duas reportagens da TVI, mesmo perante o silêncio e as várias contradições de Valdemar Alves, eleito em 2013, como independente, com o apoio do PSD e no ano passado, na mesma condição, embora sob a égide socialista.
“As notícias e a comunicação social orientam as coisas da forma que querem e alguns políticos – e isso só descredibiliza a política – enviesam a informação da forma que querem. Nós não entramos nessa forma de estar na política, nós somos responsáveis e acreditamos nas entidades competentes”, observa António Sales, que frisa que “jamais” condenaria politicamente Valdemar Alves em função de trabalhos jornalísticos que são “editados”, apesar do respeito que assegura ter pela comunicação social.
Recorde-se que o líder do executivo pedroguense tem reiterado que todos os imóveis recuperados são primeiras habitações e tem negado ter tido conhecimento de qualquer processo fraudulento, mesmo tendo sido confrontado com e-mails de munícipes a fazerem denúncias concretas e ainda de existirem testemunhos de que terá sido o ex-vereador Bruno Gomes, um dos responsáveis pela instrução dos processos, a convidar algumas das pessoas a alterarem as moradas fiscais.
A terminar, e já depois de ter notado que, no seu entender, “os trabalhos de reconstrução devem continuar”, o presidente da Federação Distrital de Leiria ataca o PSD, em particular a deputada Teresa Morais, que tem sido a voz mais audível nas críticas à descoordenação na reconstrução e aos alegados esquemas de desvio de fundos: “Não faço política nem me aproveito da desgraça que aconteceu, como alguns têm feito, nomeadamente alguns deputados do PSD, nomeadamente a deputada Teresa Morais. Se a senhora deputada tem dúvidas, que as remeta para o Ministério Público e a Justiça que as esclareça.”