No rescaldo do dia mais negro do ano em matéria de incêndios – com o balanço provisório a apontar para 35 vítimas mortais -, o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, Jaime Marta Soares, disse a jornais e em televisões não ter dúvidas de que estes últimos incêndios tinham mão criminosa, não de um simples incendiário, mas de uma “organização terrorista” que anda “a estudar pontos estratégicos para originar incêndios de grandes dimensões” e “criar instabilidade política” no país.
Confrontada com este e outros testemunhos que apontam para a tese da mão terrorista/associação criminosa nas centenas de incêndios que deflagraram este domingo em Portugal Continental, fonte da Polícia Judiciária não só não corrobora essa tese como questiona: “Quais são os elementos que essas pessoas apontam? Viram alguma coisa? Já apresentaram queixa?” A mesma fonte da PJ ouvida pela VISÃO reitera que àquele órgão de polícia criminal apenas compete investigar “crimes intencionais” e que desde Janeiro a PJ já deteve 101 pessoas por “incêndios intencionais”: “Continuaremos a fazê-lo sempre que os indícios apontem nesse sentido.”
Recorde-se que aquando do grande incêndio de Pedrógão Grande e Góis – que fez 65 vítimas mortais – Jaime Marta Soares também negou publicamente a tese de que o incêndio tinha começado numa árvore atingida por um raio, dizendo ter fortes suspeitas de origem criminosa. Entretanto, o relatório da Comissão Técnica Independente nomeada para analisar os incêndios de Junho concluiu que “os incêndios de Pedrógão Grande e Góis, o segundo e o oitavo maiores de sempre desde que há registos, foram causados, respetivamente, por descargas elétricas mediadas pela rede de distribuição de energia e por raio”.