No dia em que Cavaco Silva começa a reunir com os partidos mais à esquerda com assento parlamentar (hoje, dia 20, com o BE, amanhã com o PCP e PEV), a VISÃO conversou com os economistas João Ferreira do Amaral e João Duque sobre a questão que mais pode formar barreira com o PS, numa eventual união parlamentar.
O que o economista João Ferreira do Amaral não consegue desculpar à nossa classe política nem é este “terrorismo psicológico” acerca dos riscos da saída de Portugal do euro. “Agora vale tudo”, ri-se. O que não perdoa, garante, é a entrada: “A forma leviana como se aceitou um sistema em que as regras foram feitas para os países mais ricos, nomeadamente a Alemanha.” Era, na ocasião, tudo bastante explícito, diz, “nem sequer podemos dizer que fomos enganados”.
O co-autor (com Francisco Louçã) do livro A Solução Novo Escudo parte do pressuposto de que uma eventual saída do euro (que não implica a saída da União Europeia) seria negociada, pacífica, de acordo com os restantes países membros e nunca unilateral. Nessa situação (a de saída unilateral e precipitada), admite, sim, os riscos seriam muito gravosos. Foi quase o que aconteceu com a Grécia.
No caso de uma saída ponderada, o principal risco, afirma, é essencialmente o do “aumento da inflação”. Quantos aos efeitos psicológicos coletivos, julga que não se colocam: “Penso que o pânico das pessoas não existiria em caso de saída negociada.”
Quanto aos efeitos positivos, o economista elenca em primeiro lugar a “maior competitivida externa”. Ou seja, mais hipóteses de vender produtos ao estrangeiro e assim receber mais receitas externas. De facto, conclui, o incentivo às exportações de qualquer setor produtivo, como a agricultura, indústria e turismo, irá gerar investimento, quando for rentável: “É preciso quebrar este circulo vicioso.”
Por outro lado, enquanto segundo benefício, fala de uma maior autonomia do Estado. “A emissão monetária própria permitir-nos-ia arcar com osproblemas financeiros, tanto nas finanças públicas como na banca”.
E por último, refere a vantagem política de “deixarmos de estar sujeitos ao colete de forças da zona euro”.
Por isso, o economista, professor aposentado, quando lhe falam nos riscos de sair da zona euro, prefere ripostar: “E os riscos de ficar?”
Segundo ele, são riscos “de perda de sustentabilidade. De um país que não consegue crescer, com um colete de forças que o asfixia”. O que, segundo diz, já está a acontecer, com a perda de autonomia para governar e a incapacidade de manter cá os jovens.
No fundo, como destino provável (“provável não”, insiste, “é uma certeza que tenho”) passar-se-ia comPortugal o mesmo que já está há muitos anos a acontecer com o interior do país: “envelhecimento da população e estagnação da economia”.
Já para o professor catedrático no ISEG, João Duque, “uma saída controlada não existe”: “Bastava que se começasse a falar disso e toda a gente corria aos bancos e rebentava com isto tudo.” As consequências da saída do euro são, segundo ele todas gravosas: “desvalorização dos ativos; aumento da dívida, que por estar expressa em euros dispararia loucamente; falência do sistema bancário; incapacidade de financiamento.”
“Eu diria que era o colapso do país”, acrescenta. “Se nem a extrema esquerda da Grécia teve coragem de avançar…”