Cientistas acreditam ter encontrado o fóssil de um dinossauro morto pelo asteroide que atingiu a Terra há cerca de 66 milhões de anos. Antes da descoberta muitos poucos vestígios que datassem aos últimos milhares de anos antes do impacto tinham sido encontrados, pelo que o fóssil foi recebido com surpresa e entusiasmo pela comunidade científica.
A suposição do dia da morte do dinossauro foi feita depois de serem encontrados no fóssil alguns detritos que, segundo os cientistas, se teriam dispersado por uma ampla zona logo após o embate do asteroide. “É uma absoluta loucura”, disse Phillip Manning, professor de história natural da Universidade de Manchester ao programa Today da BBC Radio 4.
“A resolução de tempo que podemos alcançar neste local está além dos nossos sonhos mais loucos… Isto realmente não deveria existir e é absolutamente lindo. Nunca sonhei em toda a minha carreira que veria algo a) tão limitado no tempo; b) tão bonito, e com uma história tão incrível”, admitiu o professor.
Embora nada possa ainda ser tido como certo, a descoberta parece promissora e não apenas por existir a possibilidade de datar ao dia em que os dinossauros foram extintos. O estado em que o fóssil foi encontrado também surpreendeu os cientistas, nomeadamente porque apresentava ainda vestígios de pele numa perna do dinossauro, um Thescelosaurus.
A descoberta permitiu mostrar “muito conclusivamente que estes animais eram muito escamosos como lagartos. Eles não eram emplumados como os seus contemporâneos carnívoros”. Até à data não existiam ainda registos de como seria a camada exterior desta espécie, como explica à BBC o professor Paul Barrett, do Museu de História Natural de Londres, que analisou a perna do dinossauro que continha os vestígios de pele.
Além deste, muitos outros vestígios desenterrados em Tanis, na Dakota do Norte, se provaram também promissores para o estudo dos dinossauros, nomeadamente os restos fossilizados de uma tartaruga com uma estaca de madeira espetada, alguns mamíferos de dimensões reduzidas nas suas tocas, a pele de um Triceratops, um embrião de Pterossauro ainda dentro do seu ovo e um fragmento que os cientistas acreditam pertencer ao próprio asteroide.
Todas as descobertas têm sido consideradas pelos cientistas peças importantes para o puzzle que ajudará a humanidade a perceber exatamente o que aconteceu no dia da primeira extinção em massa do planeta Terra. A perna fossilizada do dinossauro, por exemplo, parece ter sido “arrancada muito rapidamente”, não existindo evidências de que o animal possa ter sofrido de “doença” e “não há patologias óbvias, nem há vestígios de que perna tenha sido retirada (por outro animal), como marcas de mordidas ou pedaços que estejam desaparecidos”, explica Barret. “Portanto, a melhor ideia que temos é que este é um animal que morreu mais ou menos instantaneamente”, acrescenta.
Os peixes, por sua vez, parecem ter respirado os detritos que se encontram também sobre a perna fossilizada e que estão, neste caso, presos nas suas brânquias. Como relata a BBC, os detritos identificados correspondem a fragmentos de rocha derretida que terão sido catapultados no impacto do asteroide com a Terra, caindo depois em várias regiões do planeta, incluindo os rios onde se encontrariam os peixes analisados.
Os fragmentos de rocha derretida foram associados quimicamente e por datação radiométrica ao local do impacto do asteroide, que, com cerca de 12 quilómetros de largura, terá caído sobre o Golfo do México, próximo da Península de Yucatán, segundo advertido pela comunidade científica. Embora o local do embate seja a cerca de 3 mil quilómetros de Tanis, a energia emitida terá sido tão elevada que a sua devastação foi sentida em todo o planeta.
“Conseguimos separar a química e identificar a composição desse material. Todas as evidências, todos os dados químicos desse estudo sugerem fortemente que estamos na presença de um pedaço do asteroide que matou os dinossauros”, explicou à BBC o professor Phil Manning, supervisor do doutoramento do líder das escavações de Tanis, Robert DePalma.
“Temos tantos detalhes com este local que nos dizem o que aconteceu momento a momento, é quase como ver isto a acontecer nos filmes. Olhas para a coluna de rocha, olhas para os fósseis lá, e isso leva-te de volta até aquele dia”, acrescenta ainda o próprio DePalma.
Apesar de todos os indícios de que os fósseis encontrados possam ter pertencido a seres vivos que testemunharam o embate do asteroide com a Terra, alguns cientistas mantêm-se reticentes, como é o caso do professor Steve Brusatte, da Universidade de Edimburgo que aparece enquanto consultor externo nas escavações filmadas para o documentário “BBC Dinosaurs: The Final Day” dirigido pelo órgão de comunicação.
Embora o professor não tenha dúvidas de que os “peixes com fragmentos (de rocha derretida) nas suas guelras são um cartão de visitas absoluto para o asteroide”, algumas das outras suposições feitas podem não ser tão acertadas. Brusatte exemplifica, por exemplo, que os dinossauros podem ter morrido antes do embate do asteroide, com os seus corpos a serem depois vítima do impacto da rocha e assumirem características que levar a crer, ainda que erradamente, que as suas mortes foram instantâneas e simultâneas.
“Para algumas destas descobertas, no entanto, importa se eles morreram no dia (do impacto do asteroide) ou anos antes? O ovo de Pterossauro com um bebé Pterossauro dentro é muito raro; não há nada parecido na América do Norte. Nem tudo tem de ser sobre o asteroide”, diz ainda.