Desde que os talibãs tomaram o poder no Afeganistão, na segunda-feira, 16, que se tem levantado uma onda de preocupação pelos direitos humanos, nomeadamente das mulheres, crianças e outras minorias. Várias figuras internacionais expressaram essa inquietação, como é o caso de Malala Yousafzai, vítima dos talibãs no Paquistão, e agora ativista pela igualdade de género e pelo direito das mulheres à educação. “Olhamos em completo choque enquanto os talibãs tomam o poder no Afeganistão. Estou profundamente preocupada com as mulheres, minorias e ativistas pelos direitos humanos. Os poderes globais, regionais e locais devem reclamar imediatamente um cessar-fogo, providenciar urgentemente ajuda humanitária e proteção para os refugiados e civis”, escreveu no Twitter.
A preocupação vem do conhecimento do que é um governo com os talibãs no poder, como aconteceu no Afeganistão entre 1996 e 2001. Foram cinco anos de várias violações e retrocessos no que diz respeito aos direitos humanos e às liberdades e direitos das mulheres. A Associação Revolucionária das Mulheres do Afeganistão (RAWA na sigla inglesa) faz uma lista de 29 restrições e maltratos impostos às mulheres durante esse tempo. Apesar de os talibãs terem afirmado que “não querem que as mulheres sejam vítimas”, não especificaram que tipo de medidas iriam ser adotadas neste sentido, temendo-se que estas restrições voltem a ser impostas. “Esta lista oferece apenas um vislumbre da vida infernal que as mulheres afegãs são obrigadas a levar sob o regime talibã e refletem vagamente a profundidade da sua privação e sofrimento”, escreve a RAWA.
As 29 restrições aplicadas pelos talibãs às mulheres, segundo a RAWA:
- Proibidas de trabalhar: Existia a proibição total do trabalho feminino fora de casa. Apenas algumas médicas e enfermeiras tinham permissão para trabalhar em alguns hospitais de Cabul (capital do Afeganistão).
- Completa proibição de qualquer tipo de atividade fora de casa: As mulheres só podiam sair de casa se fossem acompanhadas pelo marido ou por um familiar masculino como pai, avô, irmão ou filho.
- Proibidas de realizar negócios com comerciantes do sexo masculino.
- Proibidas de ser tratadas por médicos homens.
- Proibidas de estudar: As mulheres não tinham permissão de andar na escola, universidade ou qualquer outra instituição educativa. As escolas para raparigas foram convertidas pelos talibãs em seminários religiosos.
- Obrigadas ao uso de um longo véu (burca) que as cobre da cabeça aos pés.
- Podiam ser chicoteadas, espancadas e vítimas de abusos verbal: A mulheres que não se vistam de acordo com as regras dos talibãs ou que não estejam acompanhadas pelo marido ou por um familiar masculino podiam ser vítimas de violência física e verbal.
- Podiam ser chicoteadas em público as mulheres que não escondessem os tornozelos.
- As mulheres acusadas de ter relações sexuais fora do casamento eram condenadas ao apedrejamento público até à morte.
- Proibidas de usar produtos de cosmética: Não podiam usar por exemplo maquilhagem nem verniz. Houve casos de mulheres que, por usarem verniz nas unhas, tiveram os dedos amputados.
- Proibidas de falar ou apertar a mão a homens: Só o podem fazer aos maridos ou familiares.
- Proibidas de rir em voz alta: Os talibãs consideravam que ninguém estranho à mulher poderia ouvir a sua voz.
- Proibidas de usar saltos altos que produzissem som ao caminhar: Os homens não podiam ouvir os passos de uma mulher.
- Proibidas de apanhar um táxi: Só o podiam fazer acompanhadas pelo marido ou familiares do sexo masculino.
- Proibição da presença feminina na rádio, televisão ou reuniões públicas de qualquer natureza.
- Proibidas de praticar desportos ou entrar em qualquer clube desportivo.
- Proibidas de andar de bicicleta ou mota: Só o podiam fazer se fossem acompanhadas pelo marido ou familiar do sexo masculino.
- Proibidas de usar roupas de cores vivas: Para os talibãs, as cores vivas eram consideradas “cores sexualmente atraentes”.
- Proibidas de reunir para festividades: Como para os Eids, as celebrações em nome de Alá.
- Proibidas de lavar roupa nos rios ou praças públicas.
- Modificação de todos os nomes de ruas e praças que incluíam a palavra “mulher”: Por exemplo o nome “Jardim das Mulheres” passou para “Jardim da Primavera”.
- Proibidas de espreitar das varandas do seu apartamento ou casa.
- Todas as janelas das casas tinham de ser opacas: Esta obrigatoriedade tornava impossível que alguém da rua conseguisse ver as mulheres dentro das suas casas.
- Alfaiates masculinos não podiam medir, nem costurar roupas femininas.
- Proibidas de utilizar casas de banho públicas.
- Não podiam viajar no mesmo autocarro que os homens: Existia uma distinção entre os autocarros para homens e os para mulheres.
- Proibidas de usar calças largas: Mesmo que fossem usadas por baixo da burca, as calças largas continuavam a ser proibidas.
- Proibição de fotografar ou filmar mulheres.
- A impressão de imagens de mulheres em revistas, livros, ou penduradas em casas ou lojas eram proibidas.
“As mulheres não têm a menor importância aos olhos dos talibãs, exceto quando estão envolvidas na procriação, na satisfação dos desejos sexuais dos homens ou assumindo o pesado trabalho doméstico. As restrições dos talibãs- comparáveis às da Idade Média- continuam a matar o espírito do nosso povo, privando-o de toda a existência humana”, afirmou a RAWA na altura.
Para além destas proibições, que apenas se destinavam às mulheres, existiam mais, que se aplicação a ambos os sexos ou apenas aos homens. A RAWA enumera algumas, entre as quais:
- Proibição de ouvir música.
- Proibição de ver filmes, televisão ou vídeos.
- Proibição de celebrar o Noruz, o ano novo do calendário persa, que se dá entre 20 a 22 de março, e que os talibãs consideravam uma celebração pagã.
- Também não podiam celebrar o dia do trabalhador (1 de maio) uma vez que era considerado uma festividade “comunista”.
- Todas as pessoas que não tinham nomes islâmicos tinham de o alterar.
- Os jovens afegãos eram forçados a rapar o cabelo.
- Os homens eram obrigados a usar roupa islâmica.
- Os homens eram proibidos de cortar ou aparar a barba.
- Obrigatoriedade de participar nas orações nas mesquitas cinco vezes por dia.
- Era proibido cuidar de pombos e o treinar pássaros, considerados atividades não islâmicas. Quem violava esta regra era preso e os pássaros mortos.
- Todos os espectadores de jogos desportivos deviam cantar Allah Akbar (Alá é grande) enquanto aplaudiam.