A organização humanitária Médicos sem Fronteiras (MSF) tem fornecido apoio médico e psicológico a dezenas de raparigas rohingya nas suas instalações de Kutupalong, na unidade de saúde sexual e reprodutiva – uma clinica especializada em vítimas de violações e assédio sexual.
Das refugiadas da antiga Birmânia vítimas de violação, “cerca de 50% têm 18 anos ou menos, incluindo uma rapariga com 9 anos e várias outras com menos de 10”, avançou a MSF, na conferência de doadores organizada por ONU que terminou segunda-feira em Genebra.
A organização acredita que esta é apenas uma fração do total de crimes sexuais (grande parte das vítimas enfrenta barreiras culturais à procura deste tipo de tratamento) que têm vindo a ocorrer desde o início das operações militares no Estado de Rakhine, a 25 de agosto, contra os rohingya – uma ofensiva militar de Myanmar lançada na sequência do ataque, nesse dia, contra três dezenas de postos da polícia levado a cabo pelos rebeldes do Exército de Salvação do Estado Rohingya.
Os refugiados rohingya já relataram várias vezes à MSF casos de violações em grupo e outros crimes sexuais cometidos pelo exército de Myanmar, durante as operações militares classificadas como “um exemplo clássico de limpeza étnica” pelo Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Zeid Ra’ad al-Hussein, e que levaram os rohingya a refugiar-se no Bangladesh. No entanto, esta é a primeira vez que surgem relatos de crimes sexuais contra crianças.
Uma mulher de 27 anos não identificada de Buthidaung, no Estado de Rakhine, confirmou ao The Guardian que a sua irmã de 14 anos foi violada pelo exército de Myanmar pouco depois dos incidentes de 25 de agosto, no mesmo ataque que resultou na morte do seu pai e marido.
“Os militares puseram os homens todos de um lado e levaram as mulheres para a selva”, onde terão selecionado as vítimas. “Chorei quando levaram a minha irmã mais nova, mas não conseguia pará-los”.
“Torturaram e violaram muitas raparigas e mulheres. Quando pararam e se foram embora, fui procurar pela minha irmã e vi imensos corpos no chão. Quando encontrei a minha irmã não soube se ela estava viva ou morta, mas estava a respirar”, relata.
“Ela estava a sangrar imenso, portanto levei-a a um riacho e lavei-a. Depois carreguei-a aos ombros até encontrar uma pequena clínica médica [em Rakhine] e trouxe-lhe medicamentos”. A mulher disse que a sua irmã mais tarde lhe relatou ter sido violada por dois soldados e por um civil envolvido no ataque à aldeia.
Cerca de 600 mil pessoas já fugiram de Myanmar para o Bangladesh desde 25 de Agosto e estão agora a viver em campos de concentração improvisados, em condições precárias.
A primeira-ministra do Bangladesh, Seihk Hasina, pediu esta semana a colaboração do secretário geral das Nações Unidas, António Guterres, para “pressionar o Governo da Birmânia para acolher de volta os seus [cidadãos] nacionais” em resposta a esta crise, cita a EFE.