Falou da sua juventude a trabalhar nos bairros sociais de Lisboa. Lembrou a liderança partidária do PS. Prometeu a paridade total nos cargos da instituição, 50/50 para homens e mulheres. A primeira prova de António Guterres para o cargo de secretário-geral da ONU, correu-lhe bem: a unanimidade foi nacional e internacional, com várias publicações em todo o mundo a sublinharem o bom desempenho do candidato português.
Este é o primeiro processo de seleção pública do secretário-geral da organização. Abandonando o tradicional secretismo que presidia à seleção, desta vez a ONU realiza audições públicas nas quais todos os candidatos são questionados pelos representantes dos vários países. O secretário-geral é escolhido através dos votos dos 193 membros da Assembleia Geral mediante a recomendação dos 15 membros do Conselho de Segurança (no qual os Estados Unidos, a Rússia, a China, o Reino Unido e a França têm poder de veto).
Nas audições de terça-feira foram ouvidos três dos nove candidatos conhecidos até terça-feira. Guterres foi o terceiro, após as audições de Igor Luksic (Montenengro) e de Irina Bokova (Bulgária). Dirigindo-se à Assembleia em quatro línguas diferentes, António Guterres lembrou a sua experiência em gerir crises, evocando o tempo em que foi secretário-geral do Partido Socialista. “Não há nenhum trabalho em que seja preciso lidar tanto com crises como na liderança de um partido”, disse. Mas colocou a tónica sobretudo na prevenção, a palavra-chave da sua audição, defendendo que tal só é possível através do respeito pelos direitos humanos, da paz e do desenvolvimento.
O político português de 66 anos, que durante os últimos 10 desempenhou o cargo de Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, lembrou ainda a sua capacidade de diálogo, que lhe foi criticada enquanto foi primeiro-ministro de Portugal. “Não posso dizer que posso evitar a pressão, mas posso resistir-lhe”, disse em resposta à pergunta do representante da Argélia, o porta-voz do movimento dos não-alinhados, que representa mais de 100 países em vias de desenvolvimento.
António Guterres aludiu ainda à necessidade de nos altos cargos da organização passar a existir paridade total entre homens e mulheres, prometendo um roteiro com concreto, nos primeiros meses do mandato, para atingir esse objetivo. Também neste caso evocou a sua experiência como primeiro-ministro, recordando que tentou introduzir uma quota de 30% para cargos de topo no país.
As audições com os restantes candidatos continuam nos próximos dias, em Nova Iorque. O cargo de secretário-geral da ONU é atualmente ocupado pelo coreano Ban Ki-moon. O seu mandato termina a 31 de dezembro deste ano.