Para mim, a palavra mais bonita do dicionário é ‘tarifa’. É a minha palavra favorita”, disse Donald Trump durante uma intervenção recente no The Economic Club of Chicago, uma quase centenária instituição vocacionada para o debate de temas económicos, empresariais e cívicos entre executivos de topo. A frase, atirada ao ar durante uma conversa moderada por John Micklethwait, editor-chefe da Bloomberg News, foi recebida na sala com um aplauso estrondoso, mostrando que os economistas e gestores ali presentes acreditam que a promessa de aplicar tarifas sobre produtos importados irá funcionar como um tónico para o crescimento económico, protegendo as empresas nacionais da concorrência externa e incentivando as empresas estrangeiras a produzirem dentro dos Estados Unidos. O candidato republicano admitiu, mais do que uma vez, que as tarifas são mal-interpretadas enquanto ferramenta de política económica – até afirmou que precisam de uma operação “de relações públicas” – e criticou outros economistas que dizem que, na verdade, significam um imposto sobre os contribuintes que irá tornar a economia menos eficiente e fazer disparar a inflação nos Estados Unidos. O primeiro mandato de Donald Trump na Casa Branca (2016-2020) foi marcado por tensões comerciais, com a criação de tarifas à entrada de produtos importados. Oito anos depois, o candidato republicano aposta na mesma receita: aumento do protecionismo e do isolacionismo, salvaguarda dos empregos e descida dos impostos. Desde o início da campanha que promete aplicar tarifas alfandegárias de 60% sobre a importação de produtos chineses, e de 10% a 20% sobre todas as outras importações, incluindo da Europa, visando sobretudo a Alemanha, o país que acusa de “inundar” os EUA com os automóveis fabricados em solo europeu. A Comissão Europeia admite retaliar e criou um grupo de trabalho para avaliar o impacto das medidas protecionistas do candidato republicano. Mesmo que a candidata democrata Kamala Harris seja eleita, afastando aquele que seria o pior cenário para a União Europeia (UE), não é de esperar um entendimento total em questões de política económica. Um reforço do protecionismo teria obviamente repercussões sobre a economia europeia, mas até que ponto a UE iria ressentir-se, já que os EUA são o seu maior parceiro comercial e o destino de um quinto das suas exportações?
Uma espada sobre a cabeça