A saída de Cristiano Ronaldo para Itália é um rude golpe na Liga espanhola de futebol, mas “não é um desastre”, defende Daniel Alonso, um dos “embaixadores” que a organização da prova tem agora espalhados por 44 países, com o objetivo de a promover além-fronteiras. Hoje dada a conhecer, numa apresentação à imprensa no Mercado da Ribeira, em Lisboa, esta nova aposta em larga escala de LaLiga, como é popularmente conhecido o campeonato do país vizinho, surge após o rombo mediático causado pela transferência de CR7 do Real Madrid para a Juventus, mas já estava em marcha antes da partida do goleador português. Se é suficiente para estancar os danos, ver-se-á mais adiante.
A primeira jornada da época 2018/19 revelou indicadores preocupantes, com Barcelona e Real Madrid a registarem as piores assistências da última década. Sendo prematuro tirar conclusões, é preciso recuar à temporada antes da chegada de Ronaldo a Espanha para encontrar números mais baixos. Nas nove épocas em que o madeirense rivalizou diretamente com Lionel Messi, nunca tão poucos adeptos se sentaram nas bancadas do Bernabéu e de Nou Camp, na abertura da competição.
Daniel Alonso destaca a entrada em cena de outros internacionais portugueses, como William Carvalho (Bétis), Gelson Martins (Atlético de Madrid) e André Silva (Sevilha), além da continuidade de Gonçalo Guedes (Valência), para manter vivo o entusiasmo deste lado da fronteira, enquanto aguarda que o impasse na negociação dos direitos televisivos seja ultrapassado.
Nesse quadro de indecisão, o representante de LaLiga em Portugal admite que o apuramento do Benfica para a fase de grupos da Liga dos Campeões acaba por beneficiar os interesses da Liga Espanhola. É que, por agora, apenas a operadora Nowo disponibiliza na sua grelha o canal Eleven Sports, que bateu a SportTV na corrida pelas transmissões dos jogos da Champions. Se o FC Porto fosse o único clube português presente na fase de grupos, os seus jogos seriam todos transmitidos em sinal aberto (TVI) e, por conseguinte, diminuiria o interesse em subscrever a Eleven Sports. Com o Benfica também qualificado, apenas um dos clubes terá honras de transmissão semanal na estação de Queluz, alternadamente, pelo que a Eleven Sports afirma-se como um ator indispensável para os adeptos de ambos os representantes nacionais na prova máxima da UEFA.
O contexto criado a partir do apuramento dos encarnados, selado esta quarta-feira na Grécia, pressiona as outras operadoras, Meo, Nos e Vodafone, a chegarem a um entendimento com a Nowo para contarem com a Eleven Sports nas grelhas, se não quiserem ficar “fora de jogo”. Face a este trunfo negocial, e com a primeira ronda da fase de grupos da Liga dos Campeões agendada para meados de setembro, antecipa-se para breve o alargamento às outras operadores da base de subscritores do novo canal de desporto, que começou a emitir em Portugal há duas semanas. Como consequência, também a Liga espanhola ganhará visibilidade, assim como a alemã, a francesa e o Mundial de Fórmula 1, cujos direitos para 2019 acabam de ser garantidos pela Eleven Sports, uma cadeia multinacional sediada em Inglaterra.
Estratégia global
Nos últimos dois anos, segundo dados oficiais da Liga espanhola, as audiências da competição, a nível global, subiram 40%. A popularidade do clássico entre Real Madrid e Barcelona, com potencial para captar 500 milhões de telespectadores nos 182 países onde é transmitido, de acordo com a estimativa de Daniel Alonso, continua a ser o grande cartão de visita, e isso não vai mudar com a saída de Cristiano Ronaldo, acreditam em Espanha.
Para a nova época, a organização estendeu as câmaras aéreas a oito estádios e as repetições dos lances em 360 graus a seis, com a novidade absoluta das câmaras de linha de golo em todos os recintos, uma vez que vão servir de ferramenta ao novo sistema de arbitragem assistida, o famoso VAR, já introduzido em Portugal na temporada passada.
Nesta tentativa de promoção nos quatro cantos do mundo, sob o lema “Não é só futebol, é LaLiga”, os homens da bola também pretendem “potenciar a marca Espanha”, entrando no domínio do turismo com referências à gastronomia e à cultura do país, com exemplos como a Sagrada Família, em Barcelona, ou o Museu Guggenheim. “Estamos no campeonato do entretenimento, é aí que temos de captar fãs”, remata Daniel Alonso.