Esta é uma história de amor pela cozinha, mas também uma história de amor – ponto final. Song é natural de Heilongjian, no Norte da China, e mudou-se para Portugal há cerca de oito anos, para trabalhar numa multinacional ligada à área financeira; Hélder Beja é português, viveu na China durante sete anos, altura em que trabalhou como jornalista e foi também cofundador do Festival Literário de Macau. “Conhecemo-nos cá, e vamos casar em breve”, conta Hélder à PRIMA. Durante a pandemia, tal e qual uma boa percentagem de seres humanos, começaram a cozinhar mais refeições em casa. “A Song fazia uns dumplings muito bons”, continua. Confecionados com massa caseira, à base de trigo, esticada à mão e com recheios tradicionais. “E eu dizia-lhe muitas vezes: ‘i miss dumplings’.”
Sem se levarem muito a sério, Song e Hélder acharam que havia potencial para um negócio na área e arrancaram com uma conta de Instagram e Facebook – Miss Dumplings, o nome estava definido à partida – através da qual vendiam dumplings pré-preparados. “Eram sobretudo clientes portugueses e a aceitação foi ótima.” Pouco tempo depois, estenderam o Miss Dumpling ao Mercado da Comida Independente (mercado de rua, aos sábados), onde confirmaram o sucesso dos produtos. Estabelecida a marca, veio a procura de um restaurante. “A ideia sempre foi abrir deste lado da cidade [imaginando que existe um eixo imaginário na Avenida da Liberdade], onde a oferta de cozinha chinesa existe em menor número”, continua Hélder. Depois de muita procura, encontraram um antigo restaurante português na Travessa dos Mastros, na fronteira entre o Poço dos Negros e São Bento, deixaram boa parte da decoração, acrescentaram-lhe ilustrações da China, cestos de bambu e outros detalhes e em poucas semanas abriram as portas à casa.
O menu, da responsabilidade de Song, mas executado diariamente por Verónica, uma cozinheira treinada pela fundadora da Miss Dumpling, faz dos bolinhos chineses a estrela da companhia, com preços bem em conta. Há 12 opções, oito delas carnívoras, com receitas de porco – “a carne dos dumplings por excelência” -, borrego, vaca e frango, uma de camarão e coentros, dois vegetarianos e um vegan, com couve e cogumelos. “São servidos a vapor ou fritos, é o cliente que escolhe. E por isso demoram algum tempo a ser feitos”, explica Hélder. Quanto aos preços, os cestos trazem doses de seis unidades, a rondar os €7 (a dose). Escolhidos os dumplings, a carta segue depois por um conjunto de pratos chineses que Song também cozinhava em casa, muitos deles à base de vegetais. Exemplos? A cama de beringela (€8.50), farripas de beringela mergulhadas num preparado à base de malaguetas, molho de ostra e vinagre de arroz; o rei cogumelo (€8.50), lascas de cogumelos-ostra frescos, acompanhados de cebolinho picado, alhos esmagados, coentros e chillis; ou as lascas crocantes (€6.50), tiras de batata laminada, com pimentos verdes e vermelhos, alhos e coentros, cobertas com um preparado de óleo de sésamo, vinagre de arroz e pimentas de Sichuan. “Vamos ter outras novidades de tempos a tempos. Agora vamos acrescentar uma sopa de dumplings, mais tarde uma de noodles e também baos.”
Para acabar em beleza, há panacotta de chá preto servida com laranja fatiada e um famoso bolo típico da China, de nome Ugly Cake, feito à base de farinhas e pasta de feijão preto. Para beber, Hélder fez uma curta (mas boa) seleção de monocastas portugueses, vendidos a preços de Lisboa antiga, a €3.80 o copo, tem imperial e cerveja Tsingtao, além de uma aguardente chinesa de nome Baiju, o digestivo perfeito para uma refeição que é uma viagem muito em conta à China. “Não queríamos um restaurante só para estrangeiros. Mas um sítio onde os portugueses pudessem vir”, remata Hélder. Várias vezes, acrescentamos nós.
Travessa dos Mastros, 25, Lisboa / 96 370 5838 / ter-qua 12h-15h, 18h-23h, qui-sáb 12h-15h, 18h-02h, dom 12h-15h