As palavras e as linhas dos parágrafos saem do seu lugar habitual e escalam paredes, intervenção visual concebida por Horácio Frutuoso, recordando que as fronteiras eram coisa que não interessava muito a Júlio Pomar (1926-2018). Na nave branca do Atelier-Museu Júlio Pomar, a exposição antológica Os Livros de Pomar – Itinerância da leitura, escrita, pintura puxa fios antigos: o da forte ligação que o pintor estabeleceu entre prática pictórica e paisagem literária, fosse esta a das leituras ou a da produção autoral dos cúmplices e dos contemporâneos. Pomar nunca se furtou a fazer capas de livros, ou a criar nas telas bastante mais pequenas que eram as das páginas das obras literárias, tendo produzido desenhos e pinturas para muitas. Para ver, há as obras que alimentaram o seu imaginário pictórico, os volumes que “ilustrou”, os seus escritos.
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Os traços que fez para D. Quixote e Ulisses integram o património visual coletivo. E o cânone literário foi por si trabalhado: Aquilino, Eça, Dante, Carroll, Poe, Tolstoi, Borges, Ferreira de Castro, Maria Velho da Costa, Carlos de Oliveira, Sidónio Muralha, Richard Zimler… Na Casa Fernando Pessoa, há também um acervo precioso para ver, com título inspirado num poema de Álvaro de Campos: doze dos desenhos feitos por Pomar para Odes Marítimas/Odes Maritimes (1997). Recorda a curadora de ambas as exposições, Mariana Pinto dos Santos, que, num texto para Cardoso Pires, ele escreveu que “literatura e arte eram coisas perfeitamente indissociáveis”. E ela sublinha que muitos dos seus trabalhos não “ilustram”: “Não querem iluminar ou revelar a obra literária com que se relacionam, mas sim continuá-la por outros meios. São ‘variações.’” Outras leituras.
Os Livros de Júlio Pomar > Atelier-Museu Júlio Pomar > R. do Vale, 7, Lisboa > T. 21 588 0793 > Até 10 out, ter-dom 10h-13h, 14h-18h > €2 > Casa Fernando Pessoa > R. Coelho da Rocha, 16-18, Lisboa > T. 21 391 3270 > Até 10 out, ter-dom 10h-18h > €5
