Um fotógrafo no seu labirinto. Este poderia ser um fio de entrada em Depois, a exposição de 39 imagens de André Cepeda que ocupa os espaços do recém-ampliado Museu do Chiado. O artista tem construído um corpo de trabalho sólido, coerente, reconhecível e de forte dimensão autoral, em que cartografa regularmente o Porto, cidade onde reside, e que surge, aqui, transfigurada num espaço imagético enigmático. Este corpo de trabalho, criado nos últimos dois anos e centrado em fotografias noturnas, revela sobretudo um território lunar: cenários esvaziados de presença humana ou de sinalética reconhecível, que evocam fotogramas de um qualquer filme interrompido, congelado no tempo – como um estranho e perpétuo intervalo. À maneira de um percurso alternativo sobre a cidade, somos levados a contemplar ruas desertas, fachadas de edifícios, corpos estranhos na paisagem, plantas transfiguradas, elementos de construção, arame farpado, escadarias, vigas, muros, sombras… O olhar do fotógrafo é sempre rigoroso, o enquadramento escolhido ostenta uma frieza aparentemente documental: não há artifícios ou acessórios, tão pouco uma lógica fotográfica que privilegie o dito instante irrepetível, o voyeurismo sobre os outros, a instrumentalização ideológica.
André Cepeda pratica uma flanêrie sombria, carregada de melancolia e mistério. E suscita perplexidades no observador, que, face às suas imagens, se questiona sobre o que está efetivamente a ver: apenas um puzzle de vigas suspensas, uma delas de cor diferente como se se tratasse de um corpo estranho? Apenas um segmento de um cato, braços estendidos como os de uma criatura alienígena, tintado em azul Klein? Apenas objetos esquecidos pela máquina urbana, que operam uma espécie de deslocamento face ao contexto onde estão? Desconfie-se da banalidade, pois esta é enganadora. “Mundo petrificado, silêncio de morte, tudo o que sobra são espaços, construções e objetos que indiciam uma história anterior. Depois é um trabalho sobre o que resta, mas também sobre o que queremos e estamos disponíveis para ver e fazer com as imagens, de resgatar a exigência de uma ética da observação e do pensamento sobre os lugares de todos os abandonos e esquecimentos”, descreve o curador Sérgio Mah. Um repto a aceitar com os olhos bem abertos.
Depois, de André Cepeda > Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado – MNAC > R. Serpa Pinto, 4, Lisboa > T. 21 343 2148 > até 25 set, ter-dom 10h-18h > €4,50