1. Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian
Se atendermos à fonética, CAM pode confundir-se com o anglo-saxónico “come”: venham, entrem. E esse foi o espírito que orientou a remodelação do Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian, que abriu portas em setembro após quatro anos de estaleiro. Se na sua missão museológica, o CAM teve uma ampliação expositiva de mais 900 metros quadrados (há expectativas altas sobre o que a sua programação fará com a ímpar coleção de arte contemporânea portuguesa da FG), na vertente arquitetónica e vivencial, o novo CAM conquistou os visitantes.
O novo jardim (a última parcela do antigo parque de Santa Gertrudes, comprada pela Gulbenkian em 2005) com as suas curvas, lago e árvores altas, onde os pássaros e abelhas já regressaram, convida ao passeio – e conduz deambulantemente ao trunfo arquitetónico da engawa. Criado por Kengo Kuma, este alpendre de inspiração japonesa com cem metros de comprimento e cerâmica portuguesa no telhado, é um porto de abrigo que ambiciona ser ligação entre exterior e interior, entre luz e sombra. Em poucos meses, tornou-se um pólo para afetos citadinos e turismo arquitetónico. R. Marquês de Fronteira, 2, Lisboa > seg, qua-sex e dom 10h-18h, sáb 10h-21h
2. Ramen Station
Desde este ano, e caso seja essa a nossa vontade, já podemos conjugar um ramen nosso em cada dia. Se é uma boa notícia para quem ama este prato de conforto japonês (ou de origem chinesa, a dúvida é eterna)? A resposta é “nim”, porque sim, a receita democratizou-se, a oferta instalou-se em cada esquina, mas não, porque proporcionalmente apareceram também muitos casos em que o ramen resulta apenas da junção de água a uns pozinhos ou a caldos feitos à pressa e massas industrializadas. Salvou-nos, na reta final de 2024, o aparecimento do Ramen Station, um filho mais novo e irreverente do já consagrado Ajitama, que já vai em dois apeadeiros. Com um look que nos faz imergir nas estações de comboio japonesas, o serviço quer-se rápido, eficaz e barato – não esquecer que o ramen é comida de rua, que se prova em pequenos espaços, ao balcão. A qualidade a que os donos do Ajitama nos têm vindo a habituar está toda lá: dos caldos que estão ao lume horas a fio, aos noodles caseiros, ao picante, ao molho de soja, nada falha. Tv. Vintém das Escolas, 1A, Benfica, Lisboa > seg-sex 12h-15h, 19h-22h, sáb-dom 12h-22h > Campo Pequeno, 12, Lisboa > seg-sex 12h-15h, 19h-22h, sáb-dom 12h-23h
3. Jardins do Bombarda
Só para se ter uma ideia da diversidade de programas que desde junho acontecem neste novo espaço cultural ao ar livre, num destes domingos de dezembro houve feijoada partilhada (deliciosa!), feira de arte, inauguração do forno comunitário, danças ucranianas, sessão de DJ e vários workshops. Este é apenas um dia normal nos jardins do desativado Hospital Miguel Bombarda, que em tempos albergou doentes psiquiátricos, e ainda nem está tudo pronto. Depois de largar o Quartel do Largo do Cabeço de Bola, no final de 2023, o Largo Residências apressou-se a ocupar este espaço, que de outra forma estaria de portas fechadas à cidade, para dar largas aos seus projetos de “desenvolvimento local através de atividades culturais e da economia social e solidária que promovem a criação artística, o envolvimento e inclusão social, de maneira autosustentável”, conforme está descrito na missão da cooperativa. R. Gomes Freire, 161, Lisboa > ter-dom 10h-24h
4. Roupa em segunda mão
Não há grandes dúvidas de que este é um ritual que entrou definitivamente nos hábitos de consumo. E foram várias as lojas de roupa em segunda mão que abriram neste ano em Lisboa, tão diversas quanto os guarda-roupas de cada um de nós, que se querem mais sustentáveis, poupando a carteira e o ambiente. À peça ou ao quilo, têm à venda roupa, calçado e acessórios, a preços bastante apetecíveis, e se bem escolhidos, ainda pode ter o bónus de ser único e original. Julie Nobrega e Anthony Bogas da Costa são os responsáveis, não por uma mas por três lojas do género: a Arquívos, Aq2 e a Third Thrift Store ficam a pouca distância umas das outras, entre a Rua de São Bento e a Rua de Santo Amaro. No 8 Marvila, há duas, a Anomaly de Joana Matos, com peças desde as décadas de 70 a 90 e marcas reconhecidas, e a Black Mamba, que também aposta no vintage. E na Baixa, ficam as lojas da Sons of the Silent Age, de Tiago Andrade e Bruno Lopes, pioneiros da “segunda mão”, em Lisboa. Outros exemplos? Podíamos dar, mas não cabem neste texto. Anomaly > 8 Marvila, Pç. David Leandro da Silva, 8, Lisboa > qui-dom 12h-20
5. Locke de Santa Joana
Nascido das ruínas do antigo convento de Santa Joana, edifício do século XVII cravado entre o Marquês de Pombal e a Rua de Santa Marta, este hotel é diferente de tudo o que já existia na cidade. Pensado como um resort urbano, não é só para turistas, é para todos, sejam hóspedes ou não, e tem muito para explorar. São 370 unidades de alojamento, piscina, jardim, espaço de cowork, um grande pátio, onde todos se cruzam, e ainda há de abrir um museu com os achados arqueológicos encontrados. Os projetos gastronómicos são originais e únicos. O restaurante Santa Joana trouxe de volta a Lisboa o chefe de cozinha Nuno Mendes, no bar The Kissaten tem-se à disposição uma biblioteca de vinis e uma carta de whiskys, com a maior seleção desta bebida da cidade, enquanto no Spiritland, há residências musicais e cocktails. O Locke de Santa Joana marca a estreia em Portugal do grupo hoteleiro britânico Locke Hotels. R. Camilo Castelo Branco, 18, Lisboa > T. 21 155 5590
6. Teatro Variedades
Houve um tempo em que o Parque Mayer era sinónimo de boémia, com as atrações do tiro ao alvo, matrecos, combates de boxe, restaurantes, cafés, teatros de revista e cinema. Depois tudo se eclipsou e, já neste século, veio a vontade de devolver este pedaço à cidade por parte da câmara municipal (só o Maria Vitória se mantinha em funcionamento). Recuperou-se o Capitólio e, em 2024, o Teatro Variedades (encerrado há 30 anos, reabriu a 5 de outubro, num fim de semana de festa). A programação procura privilegiar o teatro, acolhendo produções independentes, artistas e companhias que não dispõem de casa própria, e apostar em temporadas mais extensas, ao contrário do que acontece habitualmente nas principais salas de Lisboa. A agenda para 2025 já está desenhada. Parque Mayer, Av. da Liberdade, Lisboa
7. Bar Alimentar
João Magalhães Correia já nos tinha dado o Tricky’s (o restaurante que caiu no goto dos lisboetas, com boa comida, vinhos naturais e uma banda sonora eclética), este ano abriu o Bar Alimentar com uma ementa “italianizada” (como prefere chamar-lhe, para não ferir a suscetibilidade dos puristas), fruto da sua experiência de oito anos em Itália. Não somos críticos gastronómicos, mas podemos escrever que a aposta está ganha: há noites em que o Bar Alimentar parece o lugar mais procurado da cidade (sala de 40 lugares cheia, mais os bancos do balcão), de volta de doses para partilhar de cannoli com bacalhau mantecato, cebola caramelizada, pistácio e aioli de alho assado, ou do brioche, molho guazzetto, mexilhões frescos e um toque de salicornia, por exemplo. Além de vinhos naturais de pequenos produtores, servem cocktails, elaborados pela equipa do (vizinho e sempre bom) Imprensa Cocktail Bar. R. Nova da Piedade, 62, Lisboa > ter-sáb 18h30-2h