Há um antes e um depois de 2016, ano em que o Grupo Lionesa (proprietário da Livraria Lello) adquiriu o Mosteiro de Leça do Balio, lugar de passagem no Caminho de Santiago e monumento nacional juntamente com a Igreja de Santa Maria (esta mantém-se sob a gestão da paróquia). Até então, o edifício do século XIV, com vestígios românicos, encontrava-se ao abandono, depois de ter sido residência de famílias após a extinção das ordens religiosas.
Desde o dia 22 de junho que o mosteiro reabriu ao público com visitas livres e guiadas gratuitas, após uma obra de requalificação do arquiteto Siza Vieira que durou mais de três anos. É a primeira parte de um polo cultural mais alargado (orçado em 10 milhões de euros), que há de incluir um jardim de quatro hectares projetado pelo arquiteto paisagista Sidónio Pardal e um túnel subterrâneo até à Lionesa. Gerido pela Fundação Livraria Lello, formalizada em janeiro último, o Mosteiro de Leça do Balio pretende “inspirar e capacitar as pessoas a ler o mundo”, sublinha a presidente, Rita Marques. “Estamos ancorados na literatura do livro, e noutras dimensões que têm que ver com o diálogo com o património, o território e o pensamento crítico.”

A desinformação, apontada como a maior ameaça global pelo Fórum Económico Mundial, foi a temática escolhida para a abertura do edifício. A exposição Act The Thought, que inclui frases e pensamentos de cerca de 20 personalidades (José Saramago, Natália Correia, Mário Soares, Salman Rushdie, Nelson Mandela, entre outros), bem como os mais de 1500 retratos em grande escala de gente anónima captadas pelo projeto Inside Out do artista francês JR, pretende ser “um grito de alerta”. “A desinformação precisa de ser melhor combatida, mitigada e prevenida”, reforça Rita Marques sobre a mostra que pode ser vista até ao fim do ano e inclui a instalação sonora Alea, de Diana Policarpo.
A visita ao Mosteiro leva-nos a recuar a várias épocas. A entrada faz-se pela antiga garagem da casa (século XIX), “agora com um pé-direito duplo, onde foi mantida a pedra e é possível ver as várias fases das intervenções feitas ao longo dos anos”, descreve a arquiteta Rita Amaral, do Gabinete Siza Vieira. Continua pelas salas da época românica (séc. XII), cujo reboco das paredes foi retirado devolvendo-lhes a pedra original; segue pelo antigo quarto da rainha Leonor Teles (que aqui casou com D. Fernando, séc. XIV), desce até aos claustros de granito e à antiga Sala do Capítulo (séc. XIII).
“Siza Vieira quis uma iluminação muito suave para dar aquele caráter medieval do edifício”, diz Rita Amaral sobre o projeto. A visita passa ainda pela loja (eira), o lava-pés aberto aos peregrinos (em tempos, silo de cereais) e termina no antigo pomar nas traseiras, na obra encomendada a Álvaro Siza Vieira (esta com bilhete pago). O arquiteto concebeu uma escultura aberta em betão branco (400 metros quadrados) em homenagem aos peregrinos, a que chamou O Templo. “Promove um encontro de cada um consigo mesmo e com os demais”, resumiu Siza. E ninguém lhe ficará indiferente.

Mosteiro Leça do Balio > R. do Mosteiro, Leça do Balio, Matosinhos > T. 91 650 2392 > seg-dom 10h-18h > visita ao Mosteiro grátis; Escultura de Siza Vieira €8, €4 (estudantes e mais de 65 anos), grátis (até 12 anos) > inscrição em fundacaolivrarialello.pt