FICÇÃO
1. A Viúva
José Saramago
Eis a edição mais curiosa das comemorações do centenário de José Saramago: o primeiro romance do Prémio Nobel da Literatura português, com o título original que ele lhe deu, já que não foi tido nem achado na escolha de Terra do Pecado, que o editor da altura achou mais sedutor. É uma ficção longe do estilo que lhe reconhecemos, mas muito interessante para conhecer a sua formação enquanto escritor. Como em todas as reedições da Porto Editora, o título do livro reproduz, na capa, a caligrafia de uma personalidade associada à vida e obra de Saramago, neste caso a sua filha Violante, que nasceu no ano em que o romance foi lançado: 1947. Porto Editora, 328 págs., €17,75
2. A Aldeia das Almas Desaparecidas I
Richard Zimler
Recuamos ao século XVII, numa aldeia raiana do Centro de Portugal, Castelo Rodrigo. O nome é real (fica no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, distrito da Guarda), assim como o de muitas das personagens e detalhes das suas vidas (datas de prisão e desaparecimentos). O pano de fundo deste romance (que terá um segundo volume) de Richard Zimler, norte-americano cada vez mais português, é a perseguição da Inquisição aos cristãos novos (judeus convertidos). Para nos falar de Isaaque Zarco e outras vidas passadas, o escritor fez uma profunda pesquisa histórica. Porto Editora, 656 págs., €22,20
3. O Outro Nome
Jon Fosse
Conhecido em Portugal pelo seu teatro, o norueguês Jon Fosse é autor de diversos romances. A Cavalo de Ferro tem publicado alguns, prosseguindo essa aposta com as duas primeiras partes, reunidas num único volume, da sua monumental Septologia. No seu estilo inconfundível, torrencial e interior, digressivo e expressivo, Fosse dá-nos a biografia de um pintor que, já velho, viúvo e solitário, recupera, diante da pintura que está a finalizar, o retrato da sua vida. Mas a viagem pela memória desdobra-se noutra vida, alternativa, inventada, talvez desejada. Cavalo de Ferro, 320 págs., €20,45
4. Os Domínios do Lobo
Javier Marías
Falecido em setembro, Javier Marías é um dos escritores espanhóis mais importantes e influentes das últimas décadas. A publicação quase exaustiva da sua obra em Portugal tem permitido a recuperação de títulos menos conhecidos, como o volume que reúne os (poucos) contos que escreveu e este primeiro romance, lançado em 1971, quando tinha 19 anos. Trata-se de uma narrativa norte-americana, centrada na crise familiar que atinge os Taeger durante a Guerra de Secessão. Como numa boa paródia, o enredo assume diversos géneros, do policial ao melodrama. Alfaguara, 264 págs., €19,95
5. O Diabo
Gonçalo M. Tavares
Com O Diabo, Gonçalo M. Tavares prolonga o ciclo de livros dedicado às “Mitologias”, que já integra A Mulher-Sem Cabeça e o Homem-do-Mau-Olhado e Cinco Meninos, Cinco Ratos. Com personagens que circulam entre as três narrativas, este é um mergulho no universo dos contos populares, aqui recriados numa constante oposição (e fusão) entre homem e máquina. Um cunho fantástico molda estas figuras (basta ver os seus nomes) e, neste volume, a presença do ser maldito, encarnação do mal. É ele que instiga o medo, onde antes medrou a coragem, a violência, onde antes havia tranquilidade. Bertrand, 200 págs., €17,70
6. Um Cão no Meio do Caminho
Isabela Figueiredo
Regresso à publicação da autora de Caderno de Memórias Coloniais e A Gorda. Este é um poderoso romance sobre a diferença e a busca de liberdade numa sociedade marcada pelo peso do trabalho e das convenções. É, também, sobre as memórias, as que insistimos em guardar e as que deixamos à beira de um caixote do lixo. Um livro, ainda, sobre encontros inesperados, como o que une José e Beatriz, ele conhecido por Viriato (nome de família), ela por Matadora (alcunha posta por quem não a conhece). Vizinhos dão corpo à maior necessidade humana: “Ter alguém com quem falar.” Caminho, 296 págs., €16,90
7. O Tamanho do Mundo
António Lobo Antunes
Para António Lobo Antunes, o ano de 2022 foi uma espécie de fecho de ciclo, no qual vários acontecimentos acabaram por se conciliar, como se tudo na vida tivesse um sentido superlativo: fez 80 anos e a questão da sua biblioteca ficou, finalmente, encerrada (inaugurará em 2024, no edifício da antiga Fábrica Simões, em Benfica). O Tamanho do Mundo – o 32º romance do escritor – também integra esse conjunto de acontecimentos felizes, na medida em que é uma síntese perfeita dos elementos que compõem a obra de Lobo Antunes: o amor, a morte, a doença, a solidão, o tempo, no estilo genial da narrativa não linear, sistematicamente interrompida pelos monólogos interiores e pelas vozes polifónicas que ficarão para sempre associadas ao autor português. Apenas um excerto, presente logo nas primeiras páginas: “A solidão mede-se pelos estalos dos móveis à noite.” Não há acasos: na sua clausura, Lobo Antunes burilou um modo de traduzir o labirinto da vida como uma sinfonia monumental. Sara Belo Luís Dom Quixote, 288 págs., €18,90
8. Cão Como Nós
Manuel Alegre
“Não era um cão como os outros”, diz-nos Manuel Alegre, como dirá qualquer dono que tenha perdido um fiel animal de estimação. Mas Kurika singularizou-se, de facto, ao ganhar um lugar na história da literatura portuguesa. Nas páginas desta comovida novela, escrita com a força das elegias, este cão rebelde, caprichoso e desobediente afirma-se como um enigma que, lançado ao leitor, espelha as vivências do poeta, o correr do mundo, a essência das relações afetivas. Esta edição comemorativa em capa dura, que assinala os 20 anos da publicação do livro e a sua 30ª edição, inclui um prefácio de Clara Rocha e desenhos de Barbara Assis Pacheco. Dom Quixote, 128 págs., €17,70
9. O Acontecimento
Annie Ernaux
Há sempre alguma segurança, quanto à qualidade literária, ao oferecer um livro do último Prémio Nobel. Neste caso, a francesa Annie Ernaux, conhecida pelo modo hábil e cativante com que transforma em literatura as suas vivências. O Acontecimento (o mais recente livro da autora publicado em Portugal, e que deu origem a um filme que venceu o Leão de Ouro, em Veneza, em 2021) faz-nos viajar até França, em 1963, nas memórias de uma jovem universitária que passa pela experiência de um aborto clandestino. Livros do Brasil, 96 págs., €14,40
10. Lições
Ian McEwan
Romance mais recente de um dos mais destacados escritores ingleses, Lições segue a vida de Roland Baines, personagem na encruzilhada da História que contém elementos autobiográficos do próprio Ian McEwan. Como pano de fundo, as últimas décadas do nosso passado comum: do final da Segunda Guerra Mundial à Guerra Fria, da queda do muro ao governo da senhora Thatcher, da ameaça nuclear à emergência das alterações climáticas. Depois de alguns livros menos interessantes, os incondicionais do autor vão ver aqui um regresso ao melhor McEwan. Gradiva, 656 págs., €25
11. Uma Pequena Vida
Hanya Yanagihara
Esta é uma história sobre amizade. É também uma história sobre os desdobramentos e desvios do amor. Do amor romântico, fraternal e parental. Mas é também, e sobretudo, uma história de violência psicológica e física que não se lê de ânimo leve, mas impossível de largar. Perturba na mesma dose em que enternece, e toma rumos improváveis à medida que avança, através das ações de quatro personagens principais, Willem, JB, Malcolm e Jude – o último a ganhar, aos poucos, o estatuto de protagonista –, ao longo de várias décadas, a partir do momento em que se instalam em Nova Iorque para começarem diferentes carreiras, depois de se terem unido como quarteto inusitado na Universidade do Massachusetts. Escrito por Hanya Yanagihara, jornalista norte-americana de ascendência japonesa, em 2015, e finalista de alguns prémios literários na altura, acaba de ser editado em português pela Presença, no mesmo ano em que a autora lança o livro To Paradise. — Mariana Correia de Barros Editorial Presença, 688 págs., €29,90
12. Festa no Jardim e Outros Contos
Katherine Mansfield
Reunião de contos de Katherine Mansfield, escritora neozelandesa que protagonizou uma renovação do género no início do século XX. Esta edição assinala, aliás, os 100 anos da publicação de um dos seus livros mais importantes, Festa no Jardim, um marco no seu tempo, sobretudo em Inglaterra, para onde se mudou a partir de 1908. A essas 15 histórias curtas, hoje de travo clássico, juntam-se outras três que, na opinião da organizadora e tradutora Alda Rodrigues, permitem salientar os principais veios narrativos da escritora. Contos de vida, morte, casamento e arrependimento. Penguin Clássicos, 352 págs., €13,25
13. Vejam Como Dançamos
Lëila Slimani
Segundo livro da trilogia O País dos Outros, na qual a escritora Lëila Slimani revisita a história recente de Marrocos, onde nasceu em 1981. A história da sua própria família foi o ponto de partida para um enredo que tem como protagonistas Mathilde e Amine – ela francesa, ele oficial do exército marroquino. Encontraram-se em França, no final da Segunda Guerra Mundial, iniciando uma relação. Mas os efeitos do conservadorismo em Marrocos fazem-se sentir ainda na continuação da sua história, acentuando a solidão de Mathilde e os abismos do casal. Alfaguara, 344 págs., €20,95
NÃO FICÇÃO
14. Guia de Um Perplexo em Portugal
Alberto Manguel
Radicado em Portugal desde 2020 e a trabalhar na abertura do Centro de Estudos da História da Leitura (que integrará a sua biblioteca), Alberto Manguel tem mergulhado na cultura portuguesa num duplo sentido: na leitura e no confronto desse imaginário com o que pode testemunhar nas ruas e no contacto com as pessoas. Alguns ensaios reunidos em Guia de Um Perplexo em Portugal são já um espelho dessa experiência, com textos sobre autores e topos nacionais. Noutros, reencontramos as suas obsessões, como Dante (sua leitura diária) ou Dom Quixote. Tinta-da-china, 176 págs., €18,90
15. Os Filhos da Madrugada 2
Anabela Mota Ribeiro
Cerca de um ano depois da publicação do primeiro volume, regressa esta coletânea de entrevistas conduzidas por Anabela Mota Ribeiro. Em comum, os entrevistados têm o facto de terem nascido depois do 25 de Abril de 1974. As ocupações, origens e convicções políticas são diversas; uns são conhecidos do grande público, outros não. Ao todo, 36 vozes que nos falam da sua vida num Portugal democrático, aberto ao mundo. Contas feitas, é um excelente retrato do País a partir de um puzzle de percursos individuais. Temas e Debates, 408 págs., €22,20
16. Gravidade Zero
Woody Allen
Os grandes admiradores do realizador nova-iorquino tendem a valorizar tanto os seus filmes como a sua produção literária, quase sempre materializada em textos breves, nos quais nonsense, uma certa filosofia com tendências niilistas, referências de alta e baixa cultura, pessimismo e humor autodepreciativo se misturam. É aqui que melhor se encontra, com gargalhadas frequentes, a identidade única de Woody Allen, que completa 87 anos neste dia 1 de dezembro. Em Gravidade Zero, entre galinhas que se dedicam à escrita de teatro e a crise do imobiliário em Manhattan, juntam-se oito textos publicados na New Yorker entre 2008 e 2013 e onze escritos para este livro. Edições 70, 212 págs., €16,90
17. A Era do Homem Forte
Gideon Rachman
Há escassas semanas, o professor e historiador de política John Keane recordava nas páginas da VISÃO que a “característica trágica da democracia é que é muito difícil de construir e muito fácil de ser destruída”, e que basta uma década para se transformar em despotismo. Hoje, as democracias liberais estão postas à prova. E numa democracia que entra no caminho do abismo está quase sempre um “homem forte”. Gideon Rachman, jornalista e comentador principal de assuntos internacionais no Financial Times, explica-o bem em A Era do Homem Forte. Neste livro, que chegou agora ao português, percebe-se como o neoautoritarismo personificado por figuras como Putin, Trump, Erdogan, Orbán, Xi Jinping e Bolsonaro tem um modus operandi e características comuns: a mentira, a linguagem extremada, máquinas de propaganda eficientes e o uso do nacionalismo como instrumento de radicalização e angariação de apoio popular. Todos eles são populistas e conservadores, corroem os sistemas por dentro, e tentam eliminar as barreiras que podem colocar entraves ao seu poder absoluto. Mafalda Anjos Editora Vogais, 336 págs., €21,95
18. Ideias Concretas sobre Vagas
Ricardo Araújo Pereira
Já podemos rir-nos da pandemia? Podemos, pois. Entre confinamentos, imposições nunca vistas, medos e incredulidades várias, houve muita inspiração para reflexões de ensaístas, artistas e, como não podia deixar de ser, humoristas. Estas páginas guardam uma muito peculiar “história da pandemia” que Ricardo Araújo Pereira foi escrevendo em crónicas publicadas na VISÃO e no jornal brasileiro Folha de São Paulo, entre março de 2020 e outubro de 2021. Uma vacina contra o desespero e o mau-humor. Tinta-da-china, 112 págs., €14,90
19. Evangelhos Apócrifos
Frederico Lourenço
Depois dos seis volumes da Bíblia, Frederico Lourenço dedicou-se à tradução dos Evangelhos Apócrifos, os quais encerraram em si mesmos, conforme explica o ensaísta e tradutor na nota introdutória, “um juízo de valor” acerca de textos que, muitas vezes, foram tidos como “falsificações atentatórias da ortodoxia”. A partir do grego e do latim, compôs-se uma edição bilingue a que Lourenço acrescentou ainda valiosos comentários crítico-históricos. É capaz de ser a sugestão mais adequada à quadra que aí vem. Quetzal, 680 págs., €24,90
20. Um Niemeyer É Sempre um Niemeyer
Carlos Oliveira Santos
Neste 5 de dezembro de 2022 passa uma década sobre a morte, aos 104 anos, do revolucionário arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer, para sempre ligado à edificação de uma cidade, Brasília. Um arquiteto atraído pela “curva livre e sensual”. Estas páginas funcionam como uma viagem (bilingue, em português e inglês) por várias dimensões da sua vida e obra e da sua relação com Portugal. Destaque para, à laia de prefácio, um inédito poema visual do arquiteto espanhol Santiago Calatrava. Âncora, 338 págs., €30
21. Metamorfose Necessária
José Tolentino Mendonça
Em crónicas ou em livros, o cardeal José Tolentino Mendonça tem proposto, a um público muito alargado, inúmeras leituras (e releituras) dos textos bíblicos. Neste novo volume, desafia o leitor a regressar a São Paulo, uma das figuras centrais do cristianismo. Metamorfose Necessária é tanto uma biografia, quanto uma introdução ao pensamento do apóstolo, uma identificação do seu magma teológico, quanto uma cartografia mínima para futuras leituras. A abordagem multifacetada tem sobretudo em mente os não crentes, numa tentativa de os levar a uma procura e a um questionamento pessoais. Quetzal, 184 págs, €17,70
22. Patti Smith
Ana Müsheli
Esta biografia ilustrada de Patti Smith marca a estreia em Portugal de uma nova chancela (a Iguana, do grupo Penguin). O livro é descrito pela autora, a ilustradora espanhola Ana Müshel, como “um tributo (com uma cobertura extra de afeto e admiração) que viaja por momentos-chave, influências, notas e discos que formam parte da história de Patti Smith”. A multifacetada rocker, escritora e fotógrafa norte-americana continua, assim, a ser uma inspiração para outros artistas e leitores em todo o mundo. Iguana, 184 págs., €19,95
23. Surrender, 40 Canções, Uma História
Bono
Num registo intimista, Bono, líder dos U2, conta-nos a sua vida. São 40 as canções a guiá-lo pela narração de episódios, pensamentos, perspectivas, figuras simbólicas, conversas factuais e momentos transformadores. Paul David Hewson recua à juventude em Dublin, onde, antes de ser Bono, conheceu, na mesma semana, os companheiros da banda (The Edge, Larry Mullen Jr., Adam Clayton) e começou a namorar a futura mulher, Ali. Ao concretizar este livro de memórias, o músico reescreveu letras de canções e terminou outras que lhe pareciam inacabadas. Paul/Bono tem boa memória. E sabe escrever. Ainda bem. S.C. Objectiva, 608 págs., €28,85
24. Love Me Do, A Ascensão dos Beatles
Michael Braun
Seis décadas depois, Love Me Do! – A Ascensão dos Beatles chega até nós. Em 1963, Michael Braun acompanhou John, Paul, George e Ringo na primeira digressão internacional após o enorme sucesso do seu álbum de estreia Please, Please Me, impulsionado pelo single de avanço Love Me Do! (lançado a 5 de outubro de 1962). Foram meses de loucura, excessos e euforia – era o início da beatlemania –, relatados sem receios (e sem dourar a pílula) num livro que John Lennon apelidou de “verdadeiro”, por descrevê-lo a si e aos seus companheiros tal como eram: “uns verdadeiros safados.” I.B. Guerra & Paz, 184 págs., €16,50
25. Luís de Sttau Monteiro – Gastrónomo
Ana Marques Pereira
É célebre a obra literária de Luís de Sttau Monteiro, no que ao romance e ao teatro diz respeito. Já a veia gastronómica, enquanto crítico, cozinheiro, estudioso, é desconhecida do público em geral. O novo livro de Ana Marques Pereira, médica, historiadora e investigadora da história da alimentação, é a melhor porta de entrada no completo universo gastronómico a que o escritor se dedicou entre as décadas de 60 e 80, em meios como o Almanaque, a Mosca (suplemento do Diário de Lisboa), O Jornal e o Se7e. Raras vezes em nome próprio, mas antes recorrendo a diferentes pseudónimos, que alternava sem aparente regra, para escrever críticas, experiências ou apresentar receitas. Admiradora do escritor desde cedo, a autora faz o levantamento de todos esses textos, com referências de título e data, ao qual junta a transcrição de um conjunto de oito pastas de arquivos datilografados por Sttau Monteiro sobre culinária e história da alimentação comprados num alfarrabista há vários anos. Um testemunho histórico e rico da gastronomia lisboeta e da cozinha do mundo. Mariana Correia de Barros Edição do Autor, 318 págs., €29
26. O Mais Sacana Possível – A Revista Almanaque
António Araújo
Portugal nunca tinha visto nada assim. Em 1959, José Cardoso Pires lançou uma revista arrojada, excêntrica, desconcertante – uma pedrada no charco do Portugal empoeirado da ditadura. Esta Almanaque contava com uma equipa de luxo: Sttau Monteiro, Alexandre O’Neil, Augusto Abelaira, Baptista-Bastos, Vasco Pulido Valente, José Cutileiro e o design moderno de Sebastião Rodrigues. António Araújo mergulha nesta aventura efémera de apenas 18 números e recupera o que de extraordinário ficou impresso para a posteridade. Uma viagem deliciosa. M.A. Tinta-da-china, 352 págs, €21,51
27. Independente Demente
Miguel Esteves Cardoso
Dizia Miguel Esteves Cardoso, numa crónica publicada n’O Independente em junho de 1988: “Como todos os rapazes normais da minha idade, o meu sonho máximo era ser subversivo (…) e o mais que consegui ser foi ‘irreverente’.” Nestas páginas reúnem-se, pela primeira vez, os seus textos de opinião publicados nesse jornal único que misturava, como nenhum outro, liberdade e conservadorismo. A prosa inspirada de MEC (“Inglês de inspiração e tremendamente português nos detalhes”, escreve Paulo Portas no prefácio) é um bom pretexto para refletirmos no que mudou em Portugal nas últimas décadas. E no que parece estar sempre na mesma. Bertrand, 328 págs., €18
28. Rainha Isabel II
David Souden
Isabel II entra para o rol dos grandes acontecimentos em que o ano de 2022 foi profícuo – primeiro, as comemorações do Jubileu e, três meses depois, a morte da monarca que atravessou todo o século XX. Depois da “overdose” de informação acerca do seu percurso de vida, faz sentido olhar para este álbum profusamente ilustrado com (belíssimas) fotografias e imagens televisivas extraídas em grande parte dos arquivos da BBC. Os textos são da autoria de David Souden, historiador e antigo curador do British Museum. Casa das Letras, 240 págs., €24,90
29. A Vida de Jesus
Andrea Tornielli
Andrea Tornielli é diretor editorial dos média do Vaticano junto do Dicastério para a Comunicação da Santa Sé e autor de numerosas biografias de figuras e temas católicos. Neste A Vida de Jesus, recupera toda a história de Jesus Cristo, acompanhando cada episódio com os comentários e as reflexões do Papa Francisco. O Sumo Pontífice assina também a introdução na qual discorre sobre a importância de ler os Evangelhos: “Se não temos contacto diário com a pessoa amada, dificilmente poderemos amá-la. O amor não se vive pelo correio, não se pode cultivar apenas à distância.” Dom Quixote, 334 págs., €18,80
POESIA
Neste país onde, diz-se, há mais gente a escrever poesia do que a lê-la, o lirismo será sempre, ainda assim, um bom presente. Cinco sugestões.
Foi recentemente lançada a primeira tradução portuguesa de um histórico épico inglês, Beowulf (Assírio & Alvim, 312 págs., €22,20), de autor desconhecido, impossível de datar com precisão (mas é, certamente, anterior ao século X) e considerado o mais antigo poema heroico das línguas modernas da Europa. As Aventuras de Beowulf, a caminho de se tornar rei e lutando contra monstros pelo caminho, foram uma grande inspiração para J.R.R. Tolkien escrever a célebre saga O Senhor dos Anéis. Neste final do ano chegaram, ainda, às livrarias excelentes antologias de autores consagrados. Os Poemas (Assírio & Alvim, 1 152 págs., €49) reúne toda a obra de Paul Celan, esse poeta sempre marcado pela sombra do Holocausto. Dois grandes escritores que associamos menos à poesia e mais a outros géneros literários também têm os seus poemas agora coligidos: José Saramago, em ano de centenário (Poesia Completa, Assírio & Alvim, 360 págs., €29,99) e o argentino Jorge Luis Borges (Poesia Completa, Quetzal, 624 págs., €22,20). Vai, Carlos! (Tinta-da-china, 244 págs., €14,90) junta os quatro primeiros livros do brasileiro Carlos Drummond de Andrade.