Das muitas vozes femininas que na transição do século se afirmaram como sinal de renovação e força do fado, a de Cristina Branco foi a que mais depressa se autonomizou e afastou dessa matriz. Rapidamente se afirmou como um nome a ter em conta na música popular portuguesa do século XXI e, hoje, ninguém a vê como fadista (mesmo que, aqui e ali, se vislumbrem pozinhos de fado no seu trabalho).
Nos últimos anos, passou a dar voz a uma nova (ou não tão nova assim…) geração de escritores de canções, letristas e compositores. Consegue convocar universos e referências bem diferentes ao mesmo tempo que aprofunda e assegura um lugar muito seu, um estilo (que está ancorado, sobretudo, na excecionalidade do seu instrumento de eleição: a voz). Este Eva complementa uma espécie de trilogia começada em 2016, com Menina, e continuada em 2018, o ano de Branco. O título do novo disco volta a ser autorreferencial, já que remete para Eva Haussman, alter ego criado pela cantora (com vida, por exemplo, nas redes sociais), “retrato de alguém em tempo de mudança”.
Alguns dos cúmplices dos discos anteriores voltam a fazer-se ouvir aqui. Tudo começa com a belíssima Delicadeza (com letra e música de Francisca Cortesão) e termina com Leva (canção assinada por Márcia). Pedro da Silva Martins e o seu irmão Luís José Martins (dupla que marcou o som dos Deolinda, de quem se ouvem ecos por aqui), Filipe Sambado, André Henriques (dos Linda Martini, que por estes dias se estreou num disco a solo), Kalaf, Sara Tavares, entre outros, andam por aqui. Só Contas de Multiplicar tem letra da própria Cristina Branco (com música de Bernardo Couto, guitarrista da sua banda): “Do princípio ao fim/ Risca o mapa ao acaso/ Um trilho, um traço/ (veloz)”. Essas viagens são uma boa metáfora do percurso artístico de Cristina Branco.
Eva, com dez faixas, ganhou forma em duas residências artísticas de Cristina Branco: uma em Loulé, outra no Museu de Arte Moderna de Louisiana, na Dinamarca. Para 8 de outubro está marcada uma apresentação ao vivo no Capitólio, Lisboa