Esta rua de Alcântara é escura. O Croqui é escuro. Entra-se e apenas a luz das velas tem o dom de nos alumiar, porque o verdadeiro foco está nos copos onde caem as bebidas desta chefe – tomamos a ousadia de lhe chamar assim, porque é uma arte pegar em alimentos e transformá-los em algo delicioso. OK, Constança Cordeiro também lhes junta destilados, e assim se aproxima mais de uma barmaid, mas isso até pode ser uma mais-valia, se encararmos o álcool como o responsável por acrescentar algum sal à vida.
Neste seu terceiro bar – e só começou nisto há sete anos – juntou alguns clássicos icónicos e acrescentou-lhes outros mais diretos e divertidos. Se não, o que pensar de um daiquiri verde, feito com abacate, que mais não leva do que rum, o fruto que lhe dá cor, açúcar e limão? “Esta bebida foi a primeira que fiz para aqui, assim que comecei a descomplicar. Decidi apostar em sabores familiares”, conta Constança, 34 anos, orgulhosa desta sua recente criação.

No shot do mês (a ementa muda todos os meses, consoante a sazonalidade dos produtos que usa, muitas vezes apanhando-os no campo), experimentámos um rum com framboesa, banana e lúpulo. A sua cor (um cor-de-rosa muito clarinho) engana bem, porque este pequeno copo é para ser bebido por gente grande.
Se escolhermos um lugar ao balcão de inox, em vez de preferirmos uma das mesinhas redondas de madeira, ficamos de frente para as modernas máquinas de destilação a baixa temperatura que conferem ao ambiente um je ne sais quoi de laboratório de criação.
Além de outros cocktails, como o que é inspirado num vídeo de Dua Lipa, em que a cantora come um gelado de baunilha com azeite e sal, ou o McGimlet, que mistura o sabor das batatas fritas e do sundae de baunilha do McDonald’s à vodka, há cerveja artesanal (€4), vinho biológico (€5) e três snacks para não se beber tudo a seco (azeitonas, queijos e fuet).

Aqui, os preços não vão além dos €11, para apelar a um público mais local e diferente do que frequenta a Toca da Raposa, no Chiado, o mais exclusivo Uni, na Rua do Século, ou de quem a contrata através da Fae, o seu braço dedicado aos eventos. E há lugar para receber 40 curiosos. Afinal, não é todos os dias que se pode beber um maky Mary, um bloody Mary para se tragar como se houvesse sushi lá dentro – leva tomate, claro, wasabi, soja, alga nori, mirim, molho inglês e especiarias. Se esta combinação não é digna de uma chefe, não sei que outro nome podemos chamar-lhe…
Croqui > R. Vieira da Silva, 16, Lisboa > qua-dom 18h-1h