Em fevereiro de 2012 dávamos conta, aqui nas páginas da VISÃO, de uma tendência: músicos que saltavam de bandas mais ligadas ao rock para projetos a solo, apenas com uma guitarra nas mãos. A propósito de Norberto Lobo, Tó Trips, Filho da Mãe e Cipriano Mesquita, o jornalista Miguel Judas falava de um “regresso às origens que tem esbatido fronteiras entre tradição e modernidade”. Este Homem em Catarse (nome artístico de Afonso Dorido) podia bem ser o quinto elemento numa continuação dessas páginas. Faz parte da banda indignu (que pratica um pós-rock a fazer lembrar as guitarras arrastadas dos Mogway ou dos Explosions in the Sky) e apresenta-se a solo apenas com a sua guitarra elétrica (e muitos pedais de efeitos). A diferenciá-lo dos nomes acima citados está o facto de a palavra cantada estar presente na identidade deste projeto, one man show, Homem em Catarse.
Viagem Interior parte de uma viagem real e de uma ideia clara: percorrer o interior de Portugal, de norte a sul, e deixar os lugares ecoarem na guitarra e nos sentimentos (sem cair na tentação de revisitar as sonoridades populares tradicionais de cada sítio). À laia de manifesto, o booklet do disco inclui um texto do escritor José Luís Peixoto. “As certezas absolutas que tínhamos acerca da modernidade e do desenvolvimento trouxeram-nos aqui. Foram elas que despovoaram o interior e transformaram aqueles que lá continuam numa minoria. (…) Por isso, como sempre acontece com as minorias desfavorecidas (principalmente quando nem sequer são reconhecidas como tal), os seus direitos não são defendidos, a sua cultura é posta em causa”, lê-se. Os títulos das 17 faixas (sete delas instrumentais) remetem diretamente para pontos no mapa de Portugal: do Tua à Guarda, passando, entre outros, por Tomar, Bragança, Beja, Alcoutim, Alqueva, Régua… Lugares que ganharam sons na cabeça e nos dedos deste Homem em Catarse.
Ouça aqui o tema Portalegre