Não podiam ser mais diferentes os registos destes dois livros que perseguem um objetivo comum: aproximar-nos da vida, obra e imaginário de David Bowie no ano que começou com o choque da notícia da sua morte, a 10 de janeiro, dois dias depois de ter editado um disco novo, Blackstar. Sobre Bowie, do jornalista da revista Rolling Stone Rob Sheffield, autodefine-se na introdução: “Este livro é uma carta de amor a Bowie. É um agradecimento à maravilhosa confusão que trouxe às nossas vidas. É a história de como mudou o meu mundo – e o vosso”. É, afinal, o livro de um grande fã que, por acaso, também é jornalista musical e sabe umas coisas sobre o assunto. O registo emocional e pessoal entrelaça-se com informações, descrições e citações sobre toda a carreira do músico inglês, provando que, nestas andanças do jornalismo musical, objetividade e subjetividade podem muito bem andar de mãos dadas. A figura biografada é, aliás, bem inspiradora para esse registo: “Estou a usar-me a mim mesmo como uma tela, tentando pintar nela a verdade do nosso tempo”, disse David Bowie ainda nos anos 70.
A autora de Bowie, uma Biografia Sentimental, Wendy Leigh (que morreu em junho deste ano, aos 65 anos, depois de uma queda da sua varanda para o Tamisa) é-nos apresentada como autora de best-sellers e biografias de celebridades, colaboradora habitual do tabloide britânico Daily Mail. Esta biografia também está cheia de informação mas com o foco mais apontado à revelação da vida privada e íntima do músico, muitas vezes num registo próximo da coscuvilhice. Não é preciso passar da introdução para encontrar uma respeitável lista de nomes de homens e mulheres (muitos deles célebres) com quem David Bowie se envolveu e a menção ao seu “impressionante e muito gabado membro sexual”. Wendy Leigh insiste também num tema que gastou alguma tinta dos tabloides das terras de Sua Majestade: será que Bowie tinha simpatias nazis? Há uma foto polémica onde o músico parece estar a fazer a saudação nazi (ele desmentiria) e uma frase que lhe é atribuída dizendo que Hitler era “um líder teórico perfeito”. A pergunta “quem era David Bowie?”será sempre de resposta múltipla.