O olhar de Vítor Matos, poucos minutos depois de ver o restaurante Antiqvvm, no Porto, receber a segunda Estrela Michelin, espelham surpresa e emoção. “Não estava à espera”, confessa, partilhando a distinção com a sua equipa “muito jovem”, sem a qual, enaltece, “nada disto seria possível”.
Antes, já o chefe de 46 anos, nascido na aldeia de Jorjais, Vila Real, tinha subido ao palco do centro de congressos do hotel Nau Salgados, em Albufeira, quando foi anunciada a atribuição de uma Estrela Michelin para o 2Monkeys, aberto em junho de 2023 no Torel Palace Lisboa, cuja cozinha partilha com Francisco Quintas, de 25 anos. À lista pode-se ainda juntar a atribuição do prémio de Jovem Chef a Rita Magro, responsável pelo portuense Blind, outro restaurante sob a tutela gastronómica de Vítor Matos, e que está na lista dos restaurantes Recomendados.
“Se vissem como a cozinha do Antiqvvm é pequena, não iam acreditar no que ali fazemos, um verdadeiro milagre”, há de dizer no final da gala do mais famoso guia gastronómico do mundo dedicada em exclusivo a Portugal.
Quando o restaurante abriu, em 2015, no antigo Solar do Vinho do Porto, a ideia era “fazer uma cozinha simples, com pratos como cabrito e arroz de pato, de polvo e marisco”, conta Vítor Matos. A primeira Estrela chegaria em 2017 e Vítor Matos não esconde a pressão, e a responsabilidade, que sente com esta nova distinção. “Vou ter de repensar a minha vida. Aliás, já recebi um telefonema da minha mulher a dizer-me para pensar bem naquilo que quero fazer”.
Vítor Matos está atualmente envolvido em nove projetos. Na área de restauração (Antiqvvm, 2Monkeys, Blind, Onze (Porto), Hool (Guimarães), Vidago Palace, Pedras Salgadas Spa & Nature Park…) e na área dos vinhos, com o projeto Natura by Vítor Matos. “Faço vinhos com a maior parte dos enólogos portugueses. É um projeto grande, maior do que aquilo que faço na cozinha e que fatura quatro vez mais”.
“Não precisamos de ser irreverentes e malucos para ganhar duas Estrelas, precisamos sim de fazer boa comida e respeitar os produtos”. Nesta fórmula, entram outros ingredientes que o chefe acredita serem fundamentais, como “saber receber o cliente com um sorriso e tornar o seu dia diferente”.
Num meio, afirma, no qual “todos os chefes querem ter o melhor produto do mundo, pratos e talheres brutais, isso torna-se inconcebível. Ou temos uma coisa ou temos outra. No Antiqvvm, não tenho esses pratos, mas tenho um grande produto”, orgulha-se, para logo dizer: “O que é uma Estrela Michelin? É apenas uma recomendação para nos visitarem. Não é para mim, nem para o restaurante, é para os nossos clientes”.
Pai de duas filhas, uma com 12 e outra com 21 anos, o chefe transmontano vive atualmente em Vila Real, onde construiu uma casa. “Faço muitos quilómetros todos os dias”, desabafa. Apesar de precisar de abrandar o ritmo, já anda de volta do seu novo projeto, que quer concretizar num futuro próximo. Ficará a cerca de 200 metros da casa onde nasceu, na aldeia de Jorjais. “Será uma coisa pequena, para abrir, talvez, uma vez por semana. Não vai ter nada a ver com Estrelas”.