A inauguração do restaurante Tia Alice, em Fátima, ocorreu há 30 anos, feitos em outubro passado, e a efeméride não pode deixar de ser aqui assinalada pela longevidade e pela qualidade de um projeto familiar relevante, como poucos, para a cozinha tradicional portuguesa – estranho é o alheamento do Guia Michelin, que chegou a atribuir-lhe uma Estrela e depois deixou de o mencionar, apesar das melhorias evidentes nas instalações, na gastronomia e no serviço, resultantes da experiência e do empenho de quem lá trabalha. O restaurante está cada vez mais acolhedor, é um facto, tanto na sala da pedra e na salinha anexa, que pode ser autonomizada para grupos familiares, como na sala do jardim, que abriu numa ala nova, há meia dúzia de anos, e tem o mesmo ambiente intimista, discreto e familiar.
Na cozinha, estão cinco elementos formados pela Tia Alice, incluindo dois dos seus filhos (outros três ocupam-se da sala), sendo ela própria reforço frequente, por achar que ainda é muito cedo para se retirar, aos 83 anos. O pão caseiro, feito no forno a lenha, e a manteiga de alho ganham brilho na alvura da toalha (os turistas brasileiros, mal chegam, pedem pastéis de bacalhau, que não constam da lista mas são falados do lado de lá do Atlântico), antecipando as entradas, com a sopa de feijão e couve (ou a canja de galinha, ao domingo), o presunto pata negra, a salada mista com camarão e frutos, e as açordas de camarão ou de bacalhau, entre as favoritas. As açordas são, na verdade, pratos principais, mas podem ser pedidas e repartidas para entrada.
Outros pratos a não perder: arroz de peixe (robalo, tamboril), sempre malandrinho, com um toque de tomate que realça a frescura do pescado; bacalhau gratinado, que o molho bechamel dulcifica (não está na lista, mas também se faz, a pedido, um excelente bacalhau assado com batatas a murro); vitela assada no forno a lenha, com a carne macia e saborosa, bem acompanhada com batatas assadas e grelos; arroz de feijão à transmontana, com carnes de vaca e de porco; arroz de pato à antiga, na forma e no conteúdo; chanfana, intensa no sabor mas não pesada; e, por encomenda, cabrito assado no forno, que vale a viagem, seja qual for o ponto de partida. Doçaria excelente, desde o famoso gelado da Tia Alice (natas e ovos), o mais pedido, até ao bolo-musse de chocolate, ao bolo do convento (tipo toucinho do céu) e ao leite-creme, sem esquecer o queijo serra da Estrela que é verdadeiro e, portanto, excelente. Muito boa garrafeira. Serviço irrepreensível.
Tia Alice > R. do Adro, 152, Fátima > T. 249 531 737 / 91 308 0334 > ter-sáb 12h-15h, 19h30-21h30, dom 12h-15h > €35 (preço médio)