O “bichinho” pode ter nascido durante os tempos em que Ana Fonseca viveu em Vila Soeiro, uma pequena aldeia da Guarda onde existia um forno comunitário. Ou naquele dia em que se cruzou com alguém que fazia pão com fermento natural. A jovem padeira, de 32 anos, não sabe explicar exatamente como nasceu a vontade de vir a fazer pão artesanal e o que a que levou a abrir, há pouco mais de um ano, a Pão da Terra, no Mercado de Matosinhos. Ela que deixou a meio o curso de arquitetura – “tinha o sonho de reconstruir as casas da Baixa do Porto” –, fez voluntariado durante mais de um ano numa associação de conservação de sementes no Equador, e que regressou ao Porto com vontade de abrir uma fábrica de leites vegetais, acabaria, afinal, por se tornar padeira. De sorriso fácil, Ana diz que “é uma vida dura”. E não foram raras as vezes em que foi de madrugada amassar e cozer pão, com o filho ainda bebé às costas.
A partir das oito da manhã, entre terça e sábado (dia de maior produção) saem do forno sete variedades de pão feito com farinhas biológicas moídas em mó de pedra – mistura, sementes, espelta, azeitonas, nozes e passas, alfarroba, trigo (a partir €2, meio quilo) –, que levam sal marinho da Figueira da Foz, água filtrada e fermento natural (uma levedura de centeio que Ana tem consigo desde agosto de 2017 e que serve de base aos seus pães). “É quase uma ação social, estamos a dar saúde às pessoas”, diz, enquanto amassa, molda e põe a levedar vários pães em cestos de vime “para a massa poder respirar”. Ana tem ainda outro sonho: o de vir a fazer pão com o trigo barbela que semeou numa quinta em Baião. Talvez em 2019 isso possa acontecer e, nessa altura, na Pão da Terra, em Matosinhos, já poderemos comprar pão artesanal, em produções limitadas, com ingredientes controlados, desde a colheita do cereal.
Pão da Terra > R. França Júnior, Mercado Municipal de Matosinhos, loja 25, Matosinhos > T. 93 206 5829 > ter-sáb 8h-18h