Quando a pequena Patrícia tinha dois anos e pediu ao pai um chupa-chupa, António Pinto Coelho foi à mercearia em frente a casa para satisfazer o seu pedido. Acabou por comprar muito mais do que uma guloseima: adquiriu também as instalações da mercearia e ali abriu um restaurante. Já lá vão 36 anos e assim começou a história do Comida de Santo, especializado em gastronomia regional brasileira, perto do bairro do Princípe Real, em Lisboa. “Nessa época não existiam restaurantes étnicos na cidade. Não era como agora, que estão na moda”, comenta António Pinto Coelho, hoje com 77 anos.
Nestas décadas, o Comida de Santo tornou-se um clássico da restauração lisboeta, mas o estatuto não impede que por ali surjam novidades à mesa. Recentemente, foram três as receitas introduzidas na ementa: a vaca atolada, o escondidinho de carne de sol e o escondidinho de camarão.
“Comecei a ir de férias para o Brasil em 1975, primeiro para o Rio de Janeiro e, mais tarde para São Salvador da Baía”, recorda António Pinto Coelho, apaixonado assumido da cultura e da gastronomia baiana. Nessa altura, fez também viagens para aprender a cozinhar pratos brasileiros. E ainda se lembra das negas que recebeu por lá quando ia pedir trabalho. “Um dia bati à porta de um restaurante e a proprietária disse para lá voltar no dia seguinte. Quando me apresentei ao serviço mandou-me embora por estar mal vestido. Eu ia com uma t-shirt e calças de ganga”, conta. Mas o que recorda, acima de tudo, são as boas amizades que lá fez e que ainda hoje perduram.
Para o Comida de Santo, trouxe pratos de vários regiões do Brasil, desde a Baía e o Nordeste ao Rio de Janeiro e a Minas Gerais. Aqui, a refeição pode começar com os pãezinhos de queijo, a linguiça grelhada (€4) e os pastéis de carne do sol, também conhecidos como pastéis da feira. O nome desta última entrada deve-se à ligeireza da massa. “A carne é primeiro salgada, em seguida retira-se o sal e, por fim, é cozinhada. Na verdade a carne não é posta ao sol, este processo é feito na cozinha”, explica António Pinto Ribeiro. Entre as especialidades, está a casquinha de siri com recheio de caranguejo (€6) que acompanha bem as caipirinhas (normal ou de frutas €6) – ou com a banda sonora que por ali se ouve, escolhida pelo cantor e compositor Pierre Aderne. “A música que se ouve aqui é o espelho de vários Brasis”, explica Miguel Júdice, um dos novos sócios do Comida de Santo.
O xim xim de galinha (€13) é um dos pratos mais emblemáticos da cozinha baiana, “parecido com a nossa jardineira”, descreve António Pinto Ribeiro. Faz-se com galinha desfiada, camarão seco, amendoim e caju moído e chega acompanhado com arroz seco. Mas vale a pena guardar apetite para provar os novos pratos da ementa. O escondidinho de camarão (€16) revela-se uma espécie de empadão feito com mandioca (em vez de batata). Existe também na versão escondidinho de carne de sol (€15), feito com carne de vaca curada em sal e salteada com cebola, coberta com puré de mandioca e queijo catupily gratinado. Já a vaca atolada é um estufado de carne de boi com mandicoca (€14).
Para terminar a refeição, escolha-se um pudim de aipim (€5) com mandioca, leite de coco e leite condensado; um creme de papaia (€6) ou o quindim (€5) com gemas de ovos e coco ralado e leite de coco. E saiba que, se não houver mesa na sala do Comida de Santo, pode utilizar o serviço de take away e levar esta comida com sabor a Brasil para casa.
Comida de Santo > Cç. Eng. Miguel Pais, 39, Lisboa > T. 21 396 3339 > seg-sáb 12h30-15h30, 19h30-24h