Estas Conversas VISÃO Saúde começam com um aviso à navegação: aqui vai falar-se de grilos, larvas e outros insetos que, não tarda mesmo nada, estarão nos nossos pratos. Desde 2018 que os produtores nacionais ansiavam pela aprovação da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária que chegou na semana passada. Nessa data, a União Europeia deu luz verde para sete espécies de grilos, gafanhotos e besouros passarem a fazer parte da alimentação humana, na linha com o que defendeu a FAO – o organismo das Nações Unidas para a alimentação – há oito anos, num paper intitulado Edible insects: future prospects for food and feed security. Nele sugeria-se a utilização dos insetos como fonte de proteína animal, com larga vantagem sobre aquela a que os consumidores ocidentais estão mais familiarizados (vaca, porco ou frango).
Mas atenção, como bem lembra José Gonçalves, vice-presidente da Portugal Insect, a associação de produtores e transformadores de insetos que existe desde 2018, “estamos sempre a falar de insetos produzidos em condições controladas e dentro da legalidade, sem pôr em causa a saúde e segurança dos consumidores”. Ou seja, não se imagine que esta nova área de negócio se baseie na recolha de animais nos seus habitats naturais. Ninguém vai andar a apanhar grilos no campo para os cozinhar de seguida.
Quando os produtos chegarem ao mercado, e pensa-se que isso deve acontecer muito em breve, haverá insetos inteiros desidratados, para comer como um snack, ou transformados, como bolachas, pão ou outros que atualmente levem farinha. Numa fase inicial, de habituação por parte da população, a incorporação dessas farinhas alternativas não deverá exceder os 10 por cento. Um cenário bastante distante dos países asiáticos, cujos cardápios alimentares nunca deixaram de ter insetos – inteiros, fritos, ou noutras versões culinárias.
Ao mesmo tempo, também já existe interesse por parte de alguns chefes da nossa praça para criarem pratos nos seus restaurantes com esta proteína original. Sim, porque o principal benefício nutricional dos insetos é serem ricos em proteína. “Estes novos produtos alimentares interessam mais aos consumidores conscientes da qualidade do que comem e do respetivo impacto ambiental”, conclui José Gonçalves, confessando-se fã dos grilos que produz.
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